Dia do Nordestino ajuda a mudar o olhar sobre a região

Escrito por
Xico Sá producaodiario@svm.com.br
Legenda: Fortaleza, no Ceará, e uma das maiores capitais do País
Foto: Fabiane de Paula

O 8 de Outubro, como acabamos de testemunhar na vida real e nas redes sociais, se consolidou no calendário nacional como Dia do Nordestino. Foi aquela festa. E o melhor de tudo é que a visão estereotipada da região — com seus cactos e carcaças da seca — tem dado lugar a um Nordeste como ele é: múltiplo, moderno e representado pela diversidade dos nove Estados e infinitas paisagens.

O melhor manifesto neste sentido foi do potiguar Octávio Santiago. O autor do extraordinário “Só sei que foi assim: a trama do preconceito contra o povo do Nordeste” (editora Autêntica) mostrou, no Instagram, que a gente é tradição e modernidade, forró, mangue beat e rock´n´roll, baião de dois e moqueca, sertão, agreste, zona da mata e litoral, metrópole e interior.

Veja também

O livro de Santiago tem sido muito importante na quebra da imagem troncha do nordestino. A obra se junta ao clássico “A invenção do Nordeste”, do paraibano Durval Muniz de Albuquerque Júnior, na estante do combate ao clichê e ao modo de como a nossa região ainda é vista pela mídia sudestina.

Outra contribuição fundamental contra a maré folclórica e distorcida vem da atriz pernambucana Ademara Barros. Ela segura uma pisada marcante que ajuda a mudar o jeito de como o Nordeste é enxergado no Rio e São Paulo. Lembro sempre de uma entrevista que ela deu ao jornal O Globo:

“Não quero negligenciar ninguém, mas o nordestino é sempre colocado como carente ou exótico, e não como uma pessoa normal como qualquer outra. É sempre aquela coisa do batalhador, do povo sofrido, que aguenta tudo. A mídia de certa forma contribuiu com isso. Nordestinos sempre fizeram papéis de empregada ou porteiros. Sempre tivemos nossa cultura associada a personagens menores, menos esclarecidos. Então, é legal quando você vê, por exemplo, o Irandhir Santos fazendo o vilão poderoso em “Amor de mãe”, com seu sotaque do jeito que é mesmo”.

Por falas firmes como a de Ademara é que as coisas têm mudado. Agora é só deixar o cearense Belchior cantar o resto na vitrola. Sobe som:

“Não! Você não me impediu de ser feliz! Nunca jamais bateu a porta em meu nariz! Ninguém é gente! Nordeste é uma ficção! Nordeste nunca houve!

Não! Eu não sou do lugar dos esquecidos! Não sou da nação dos condenados! Não sou do sertão dos ofendidos! Você sabe bem: Conheço o meu lugar!".

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.

Assuntos Relacionados