Crime, castigo e o ronco barulhento da ingratidão

Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil

Imagina se você é um dos 1.398 fanáticos bolsonaristas presos por causa dos atos golpistas de 8 de janeiro e descobre que o seu líder agitou toda essa bagunça por causa do efeito de remédios. Você está pagando, no presídio da Papuda, a consequência de uma pílula ou da morfina tomada pelo ex-presidente — é o que podemos deduzir agora, depois do depoimento do capitão à Polícia Federal.

Em sua defesa, Bolsonaro alega que postou um vídeo golpista no Facebook em momento de confusão mental provocada por comprimidos. Terá sido esse mesmo cachete de farmácia que ele ingeriu nas dezenas de lives com essa mesma ladainha a favor da interferência nas eleições? É a interrogação que se balança no trapézio do cocuruto nesse momento.

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Imagina se você é um dos 25 cearenses ou um dos 105 gaúchos detidos em Brasília e descobre que o líder de toda agitação não estava movido por uma causa patriótica, mas sim por um efeito colateral! É de lascar a taboca do juízo.

Agora você está aí, comendo a boia da Papuda que o ex-presidente amassou. Lamento muito, deveras. Fosse eu da sua família, meu caro, entraria com um pedido de indenização pesado contra o político que o levou ao crime e ao castigo. Não sossegaria enquanto não fosse ressarcido financeiramente pelo estrago. Sem se falar no prejuízo moral impagável.

Imagina você de São Paulo, que embarcou no bonde chamado golpismo com outros 272 passageiros da capital e do interiorzão paulista, e hoje se vê afastado dos filhos e do trabalho. É revoltante ser enganado por um falso profeta do apocalipse.

Assim escrevo por não acreditar que uma só viv´alma ainda pense que valeu a pena se sacrificar por um comandante que alega, juridicamente, uma confusão mental e nada mais. Desculpa aí, o “guru” estava grogue; desculpa aí, “estava doidão”, como diz a voz do meme nas redes sociais.

Imagina você que levou tudo tão a sério, inconsciente ou não que estaria cometendo uma ilegalidade, e passou dias e noites na frente dos quartéis do Exército. Você agora paga por toda quebradeira criminosa em Brasília. Ele nega até que lhe conheça, ele evita qualquer ligação com a sua pessoa, não é digno nem mesmo de uma visita. Você para ele não existe. Não adianta sequer mostrar aquela selfie ou o vídeo com o ronco ingrato da motociata.

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.



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