Desde o primeiro dia de governo que ouvimos a história de trancoso sobre a possível moderação do presidente Jair Bolsonaro. “Agora o homem acalma”, diz fulano. “Vai amansar, é do jogo”, promete sicrano. Muda apenas, de tempos em tempos, a babá que seria responsável por esta inglória tarefa moderadora: o Congresso, o centrão, o STF, o Guedes, o deus mercado, a imprensa, a CPI da Pandemia, o dragão inflacionário...
Não há paz com o ex-capitão no comando. Seguiremos nesse estado de golpismo permanente. Até o dia em que for realmente tarde. Repare que depois dos atos contra a democracia no 7 de Setembro a aposta na bagunça seguiu firme e trucada: caminhoneiros interditaram vias de acesso ao Supremo Tribunal Federal e outro núcleo bolsonarista tentou invadir o ministério da Saúde.
O que tivemos em resposta? Dois discursos mais fracos que caldo de bila, como definiu o amigo caririense Joe Onofre no Twitter. Um na voz do presidente da Câmara, Arthur Lira; outro do procurador-geral da República, Augusto Aras, ambos aliados, na saúde e na doença, ao Palácio do Planalto. Sim, o pronunciamento de Luiz Fux, presidente do STF, pelo menos tratou de
eventuais crimes de responsabilidade de Messias Bolsonaro. Foi alguma coisa mais substanciosa do que o de costume.
Ninguém, porém, modera o capitão reformado e sua retaguarda de coronéis e generais. O partido militar marcha indomável e o golpismo é permanente. Ainda na ressaca moral e cívica do Dia da Independência, já havia rumores de paralisação de caminhões em estradas de Santa Catarina, Paraná e Espírito Santo. Do jeito que a carestia anda, imagina o efeito de uma greve desse naipe. Um estouro na maquininha remarcadora dos mercantis da vida.
Bolsonaro bom é Bolsonaro impichado. Óbvio que o sonho da maioria dos brasileiros é uma missão difícil e depende do agito das ruas. Parte do PIB, como vimos no apoio de setores do agro nas manifestações de Brasília, ainda está grudada à ilusão bolsonarista. Outra barreira consistente é Arthur Lira e os zagueiros do Centrão futebol clube. Para esta turma, o momento é lucrativo — segura a pauta do impeachment e tem o mandato presidencial na mão; seus votos valem uma megasena política.
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.