O leite é o novo vilão da inflação. Sobra sempre para algum inocente tubérculo, uma desavisada hortaliça, uma proteína animal ou um precioso líquido. Jamais para a dupla BolsoGuedes. Assim fica difícil explicar para as crianças essa fábula moderna.
Desisti dessa missão pedagógica desde que o tomate assumiu esse papel do malvado nada favorito — não consegui dizer à minha filha Irene por que o jornal da tv joga toda a culpa nos hortifrutis e poupa o ministro da Economia, por exemplo, entre outros marmanjos de Brasília. Vou estudar um pouco para ver se compreendo. Tenho esperanças.
Agora a responsabilidade, talvez, seja apenas da vaca. Jamais do oligopólio aliado na campanha da reeleição do presidente. E tem outra coisa: faz mal manga com leite, como na crença espalhada pelos senhores de engenho ainda no Brasil Colônia. A fake news alimentícia tinha como objetivo evitar que os negros escravizados ingerissem a bebida ao ordenhar o rebanho, como relata o escritor Gilberto Freyre, entre outros estudiosos.
A manga era farta, sem valor de mercado. O leite era caro, deveria ir todo para a Casa Grande, jamais para as crianças da senzala. Daí a origem dessa lorota. Com o litro a quase R$ 10, a moral é quase a mesma. Ô Brasilzão que não muda.
O pior do momento é que nem a manga está mais em conta. Vejo agora no Diário do Nordeste que a fruta disparou de preço, com 59,8% de alta em Fortaleza. Seguido da cebola, com 36,6%. Num dá nem para chorar direito ao cortar a danada ouvindo uma seresta de João Dino.
Agora só para não deixar ruídos: manga com leite é apenas um mito criado pelos capangas dos engenhos. Adoravam espalhar esse terrorismo para espantar as meninas e os meninos. Segundo a lenda, era indigestão e até morte, em alguns casos mais graves. Repito: não faz mal algum. É uma delícia de mistura. O problema é só a carestia do BolsoGuedes. Até a próxima.
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.
Este conteúdo é útil para você?