Ariano Suassuna e a farsa dos bolsominions

Legenda: "Não, João Grilo, os fanáticos não sabiam que o mestre paraibano partiu dessa para outra em 2014"
Foto: Reprodução

Uma entidade como Ariano Suassuna tem que ser celebrada todo dia. No Nordeste e no país inteiro. Há um motivo por minuto para essa folia permanente. Foi nesta pisada que a Fundação João Mangabeira, unida ao PSB, promoveu agora em junho um festival de homenagens para marcar o início da festa dos 100 anos do autor de “A Pedra do Reino”. Sim, o centenário será em 2027, mas como se trata da figura de Suassuna, a fuzarca tem que começar com muita antecedência. O que nem João Grilo contava, porém, era com a presepada dos bolsominions.

Não é que um grupo de extrema-direita se armou até de ovos — desconsiderando a carestia que incide sobre este precioso alimento — para protestar, em Paraty, contra a homenagem ao mestre do “Auto da Compadecida”? Só sei que foi assim, Chicó, porque li na coluna do Alcelmo Góis, este bravo colega sergipano que escreve no jornal “O Globo”. A ideia era atirar os ovos, repare só, no próprio Suassuna, manchando aquele seu roupão bonito de linho branco.

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Não, João Grilo, os fanáticos não sabiam que o mestre paraibano partiu dessa para outra em 2014. Chegaram atrasados uns oito anos. No que o Chicó, sempre muito cortês, tratou de serenar os ânimos: “Se abanquem, por obséquio, agora que deram o ar da graça, podem esperar sentados para o centenário do homem, ele não é besta de perder a sua própria festa”, avisou. “E passem os ovos pra cá que estou precisando fazer uma bela de uma malassada”.

A notícia da morte de Suassuna desanimou os minions e tiozões que desejavam combater o “comunista”. Pense na decepção. A notícia me levou direto para este outro acontecimento, também no mundo da dramaturgia fantástica: “Foi então que estreou no Teatro Municipal de São Paulo a peça clássica Electra, tendo comparecido ao local alguns agentes do DOPS para prender Sófocles, autor da peça e acusado de subversão, mas já falecido em 406 a .C..”

Impossível não lembrar dessa nota do cronista Stanislaw Ponte Preta, autor do “Febeapá” — o festival de besteira que assola o país. Ele colecionava esses absurdos no tempo da Ditadura. Vivo fosse, Sergio Porto (Ponte Preta é pseudônimo) faria a festa com a fartura de ocorrências no reino do bolsonarismo.

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.



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