As águas de março movem as memórias do confisco da poupança

Legenda: Banco Central recolheu dinheiro em tentativa do governo de baixar a inflação
Foto: Agência Brasil

O que não falta é problema novo no Brasil safra 2022. Esta semana, porém, muita gente lembrou — por causa da infame data de 16 de março — de um trauma nacional do ano 1990. Se você tem mais de 40 anos e não era milionário na época, alguma marca do confisco da poupança terá ficado na memória. Foi de perder o juízo e se meter capoeira adentro.

De 15 em 15 anos, o Brasil esquece do que aconteceu nos últimos 15 anos. O cronista Ivan Lessa tinha razão na sua frase inesquecível. Nesse episódio, no entanto, não precisa muito fosfosol para rebobinar os acontecimentos.

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A desgraça veio no dia seguinte à posse de Fernando Collor. Uma equipe de jovens e arrogantes economistas, sob o comando da ministra Zélia Cardoso, raspou todo a grana dos brasileiros. O plano era derrubar a inflação de 84%. “O Brasil não aceita mais derrotas. Agora, é vencer ou vencer. Que Deus nos ajude", declarou o presidente, com olhos esbugalhados para a Nação.

Ninguém esquece as tragédias familiares, com registros de falências, infartos e até suicídios. Página pesada da política brasileira. “O caçador de marajás”, como a mídia embalou e promoveu a campanha do político alagoano, cairia dois anos depois, acusado por tenebrosas transações e sem bulir nos índices inflacionários.

Um filme lançado recentemente, “Confisco” (HBO Max), dos diretores Felipe Tomazelli e Ricardo Martensen, conta essa história de maneira extraordinária. Pega o relato de uma família arrasada pelo Plano Collor e uma reflexão melancólica da ex-ministra Zélia, em sua rotina em Nova York. Lillian Witte Fibe, jornalista de economia marcante nos anos 90, é outra personagem importante no documentário.

Jovem repórter, ainda com farta cabeleira, havia feito a cobertura das eleições na revista “Veja” e acabara de mudar de Brasília para São Paulo, onde trabalharia no “Estadão”. Tive lá meus 50 mil cruzeiros confiscados, lamentável, era do jogo.

Lembro que a maior vítima da família foi o avô João Patriolino, lá em Santana do Cariri. A depressão o abateu, com a botija de aposentado recolhida pelo Banco Central. Durante a campanha, acreditou nos boatos espalhados pelo comitê “collorido” do PRN: os “comunistas” se

apropriariam de casas e até de pequenos terrenos rurais. Dava dó ver a tristeza do avô e meu padrinho de batismo.

E você, amiga e amigo, lembra de como o episódio mexeu com a sua vida?

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.



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