Existem explicações de gente mais versada no assunto para esclarecer a invenção do Nordeste e a partir de quando isso se “assucedeu”.
O que nos interessa é dizer que não conseguimos imaginar a “nossa pessoa” fora desse Saara brasileiro, tão longe do eixo decisório de um país desigual.
Como abrir mão do pertencimento que nos é tão caro, nos dizeres, saberes e comeres?
Sem ufanismos imbecis, diria ainda que, certamente, minha sobrevivência não seria possível fora do Brasil, onde, na pior das hipóteses, não se tem o nojo de abraçar o outro.
Nas minhas rápidas andanças pelo Mundo, cobrindo Copas e torneios, em algumas oportunidades, me imaginava um exilado político, obrigado a viver em terras estranhas.
Só em pensar, era acometido de azia e má digestão.
Me reporto mais, até, ao sertão ”feito de silêncios e pedras”, como dizem muito bem os nossos poetas repentistas na trilha de Patativa do Assaré.
Precisaríamos de mil espaços como esse para falar da saga nordestina, do Padre Cícero, de sua religiosidade, tradições e artes.
A nossa culinária de baião de dois com pequi, torresmo, macaxeira e carne de bode, compondo o nosso verdadeiro ”caviar”, afora outras maravilhosas opções gastronômicas.
A música de Luiz Gonzaga e seus súditos, como a encarnação mais verdadeira de ser nordestino.
Aliás, não consigo falar do “Rei do Baião” sem me emocionar com essa planta, parte orgânica da terra, que ele cantou criando moda musical.
Basta dizer que, de cinco músicas rodadas nos alto falantes do Maracanã, antes do fatídico Brasil e Uruguai em 1950, quatro eram de Luiz Gonzaga,
Houve um tempo, depois da onda mais efervescente do Rock, Bossa Nova, Iê-iê-iê e Tropicália, em que, muita gente se dizendo intelectual e para não passar “vergonha”, escondia a predileção pelo baião, xote e xaxado.
Necessário se tornou que dois baianos geniais – Gil e Caetano – mostrassem que o Baião de Luiz Gonzaga não podia ficar fora de nenhuma antologia musical brasileira.
Você, nordestino de “rochedo”, não precisa ter vergonha dos seus valores porque eles são diferentes dos outros.
Bonito fez o nosso magistral Rogaciano Leite:
Não sou um Manuel Bandeira
Drummond ou Jorge de Lima
Não espereis obra prima
Desse matuto plebeu
Eles cantam suas praias
Palácios de porcelana
Eu canto a roça, a choupana
Eu canto o sertão que é meu.