Seleção Brasileira: impressões sobre o desencanto

Confira análise do comentarista Wilton Bezerra

Legenda: Gabriel Jesus tenta jogada contra defensor uruguaio
Foto: Lucas Figueiredo/CBF

Gosto dessa definição: encantamento é um substantivo que serve para designar pessoas e coisas muito especiais.

Ao me deparar com o jogo Uruguai e Brasil pelas eliminatórias da Copa do Mundo, confesso que bateu um momento de desencanto, sentimento geralmente atribuído aos conservadores que costumam resmungar: “esse não é o futebol brasileiro que aprendi a amar”.

É que, em se tratando da sacrossanta seleção  campeã de cinco copas, o torcedor acha que a canarinha deve retratar o verdadeiro futebol brasileiro, considerado poesia no seu auge.

Voltando ao jogo das eliminatórias, lá estava o estádio Centenário de Montevidéu intacto na sua arquitetura desde que serviu como palco para a primeirra Copa do Mundo em 1930, já que no vizinho país não se cultiva a compulsão de se implodir templos futebolísticos.

Esse jogo já viveu seus momentos de encantamentos a partir da vitória uruguaia em 1950 e, também, pelos históricos duelos pelos torneios sulamericanos, ao produzir um frêmito que não encontramos hoje.

Uma partida comum, de prosaicos passes e jogadas, numa demonstração de que as teorias de prancheta do Tite não se reproduzem no futebol jogado pelo escrete.

Nos confrontos entre clubes, os nossos adversários da America do Sul costumam encrespar e até arrancar resultados, o que não se repete nos confrontos entre seleções.

O Uruguai, batido em maiores problemas por 2 a 0, não teve um desempenho que revelasse um espírito de quem disputa uma fase eliminatória, se comportando como se tivesse licença para bater como recurso permanente.

Ainda bem que alguns novos valores individuais nos trazem uma esperança de que as coisas melhorem e consigam contagiar: Lodi e Douglas jogam muito e Éverton Ribeiro atravessa uma bela fase.

Há de ser dizer duas coisas: a ausência de Neymar e o silêncio conventual das arquibancadas contribuem muito para o desaparecimento de algo encantador.


Talvez o muxôxo do comentarista não passe de um exercício de nostalgia.