O meia armador que pensava o jogo

Confira a coluna desta segunda-feira (26) do comentarista Wilton Bezerra

É comum se ouvir dos treinadores: "Preciso de um camisa 10 que pense o jogo na meia-cancha e arrume o meu time".

Esse mantra se refere a um meia clássico imaginário, de passes longos ou curtos, que ficou perdido no passado.

Vamos ficar nos dois maiores exemplos do futebol brasileiro: Didi, o "folha seca", e Gérson, o "canhotinha de ouro".

No tempo em que no setor de meio-campo existia um "púlpito" para esse pensador das melhores jogadas.

Diga-se, com uma pontada de exagero: "Esse pensa pelo time todo!". Como se o restante da equipe fosse formado por descerebrados.

Pois bem. O futebol mudou, ficou mais rápido, mais físico e os espaços para o jogo diminuíram.

O meia clássico e imaginativo, que precisava de tempo e espaço para consecução de suas jogadas, foi o mais afetado com essas mudanças.

Outra coisa: times bem orientados passaram a jogar em 30 ou 40 metros. Se nessas medidas chegam a ficar dois times, com a evolução dos sistemas defensivos, desaparece, entre linhas, o espaço para o meia clássico elaborar.

Essa função, vejam só, passou a ser do volante que vem de trás (Caio Alexandre, do Fortaleza, é um), e até mesmo de um zagueiro que tenha bom passe.

De maneira que, dos meias de hoje, exige-se que joguem atacando e defendendo, de área a área.

Para fugir dessa leitura, sistemática e um pouco radical, diríamos que, ainda bem, contamos com craques desafiadores dessa nova ordem do futebol.

Classudos e competentes Arrascaeta, Ganso e Rafael Veiga destróem modernos paradigmas e fazem miséria nos curtos espaços entre as linhas.

Para o nosso raro deleite.

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