Não foi o nosso futebol que pariu o cinismo mas, não há dúvidas, de que sempre serviu como seu hospedeiro permanente.
A CBF compra um avião por uma fortuna e oferece, cinicamente, ao Icasa pouco mais de R$ 15 milhões, por uma causa ganha pelo Alviverde que corresponde a quatro vezes esse valor.
Botafogo, Vasco e Cruzeiro, para ficar apenas em três exemplos, mudaram de treinadores, no ano passado, para dar uma cínica desculpa às suas grandes torcidas por descalabros de gestores.
Isto sem se falar em muitos times que fazem parte da nobreza do nosso futebol e estão de ladeira abaixo, há muito tempo, pelo mesmo motivo.
Essa do Grêmio estabelecer um jogo para o treinador Tiago Nunes provar que podia continuar com o emprego foi uma coisa cínica.
Está bastante claro, também, que, de olho em vantagens rescisórias, certos treinadores não se incomodam muito com dispensas porque, daqui a pouco, estarão, cininicamente, curiando o emprego de outro colega.
No Brasil, dois cargos estão sempre à perigo: o de presidente da República, pela ameaça do impedimento, e o do treinador pelo inferno dos resultados.
Na política, é muito comum se falar da falta de educação dos outros, sem a percepção de estar com o dedo enfiado no nariz.
No futebol, até mesmo com resultados favoráveis, o treinador pode ser demitido de forma cínica, por carregar a pecha de antipático.
Dessa manobra, participa parte da mídia esportiva, sem a menor cerimônia e consciência do seu papel.
Joaquim Low, treinador da seleção alemã, campeão do mundo, deixou o cargo, depois de 15 anos de bom trabalho, e houve quem comemorasse o fato, por se tratar de um chato, campeão da indiferença para imprensa e torcedores.
Parece ser esse o maior problema de Rogério Ceni, no Flamengo. O treinador não é poupado de críticas virulentas, mesmo quando apresenta argumentos pelos resultados ruins.
Só que, aí, a campanha parte, principalmente, de cronistas que mais parecem torcedores embriagados, identicados pela sistemática das críticas.
Mas, sabem, o cinismo pode até ser engraçado.
François Rabelais, escritor e médico francês, falecido em 1.553, cinicamente escreveu no seu testamento: “Pouco tenho, devo muito, o resto fica para os pobres”.