Miguel, o profeta

Confira a coluna desta sexta-feira (14) do comentarista Wilton Bezerra

Legenda: Miguel morava no bairro São Miguel e partia para o centro da cidade nas primeiras horas do dia
Foto: reprodução

Miguel, profeta
Legenda: Miguel morava no bairro São Miguel e partia para o centro da cidade nas primeiras horas do dia
Foto: reprodução

Juazeiro do Norte, a exemplo de outras cidades do interior, teve, em certa época, uma considerável fauna de tipos pitorescos e sem juízo.

Miguel morava no bairro São Miguel e partia para o centro da cidade nas primeiras horas do dia.

Estatura mediana, magro e barbudo, andava sempre com uma cruz nas mãos. Usava vestimenta branca, de tecido grosso. A camisa tinha quatro bolsos.

A calça era regulada por um cordão de São Francisco, arrochando a cintura.

A cada dia, levava uma mensagem nova para a plateia que o escutava. Uns, achavam que era louco e lhe davam alguns trocados. Outros, tratamento dispensado aos profetas.

Constava de seus discursos uma "performance", como a de rodopiar, fazendo seguir um longo assovio, cruz na mão, apontando para alguma direção.

Foi o que fez, certo dia, apontando a cruz na direção da agência do INSS, na rua Santa Luzia, proferindo a frase: "Aqui, é uma organização desorganizada !"

Como quase em frente estava uma agência lotérica, virou a cruz em sua direção e disse no mesmo tom: "Aqui, é uma desorganização organizada!" 

Os que o cercavam viram sentido em suas palavras.

É para isso que servem os profetas das ruas.

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