Derrotismo como bom sinal

Veja a análise de Wilton Bezerra

Legenda: Neymar é bem marcado por jogador colombiano
Foto: AFP
Fui manter contato com o futebol, em 1958, quando o Brasil ganhou a Copa Mundo, na Suécia, acontecimento que colocou o País no mapa.
 
Não tinha nem ideia do “complexo de vira- latas”, que Nelson Rodrigues usava para definir o espírito brasileiro, depois do fracasso de 1950.
 
Portanto, não fui tocado pelo pessimismo em torno daquela geração de ouro, com Garrincha e Pelé como expoentes.
Em 1962, no Chile, tudo foi “festa e alegria”, como dizem os nossos repórteres esportivos. Levamos, de lavada, o bicampeonato mundial.
 
Mas, disseminou-se, depois dessas conquistas, a ideia de que, quando a seleção saísse desacreditada, as coisas acabariam bem, no final.
 
Não me recordo, com clareza, a respeito do que não tinha funcionado bem, antes da viagem para a Suécia, em 1958.
 
Para a Copa do mundo de 1966, na Inglaterra, a então CBD (a CBF é a partir 1979) resolveu perder o tri por antecipação, promovendo um escandaloso show de politicalha, convocando quatro seleções, sob o comando de Vicente Feola.
 
Aí, fomos tomados, não pelo derrotismo, mas por uma certeza de que as coisas não funcionariam, quando a bola rolasse.
 
Vitória contra a Bulgária, por 2 x 0, e duas derrotas, pelo mesmo placar – 3 x 1 – para Hungria e Portugal.
 
O que podia dar errado deu errado, mesmo.
 
Uma geração que tinha Carlos Alberto, Brito, Jairzinho, Gerson, Tostão e outros, por pouco, não ficou queimada para 1970.
 
Com a consagração no México da melhor seleção brasileira de todos os tempos, vamos dar um paradeiro nas previsões baseadas em atmosferas desfavoráveis do passado.
 
Na falta de argumentos mais sólidos e otimistas sobre o time de Tite, a mídia esportiva resolve ressuscitar essa história, segundo a qual, o desalento com a seleção atual é combustível para alimentar a crença de que, no Qatar, tudo estará nos trinques.
 
Mesmo que os resultados sejam de vitórias nas Eliminatórias, o futebol da seleção não agrada e inquieta, por se saber que, contra adversários europeus, tudo se torna mais difícil.
 
É aquela história: “dize-me contra quem jogas, que eu te direi quem és”.
 
Tite teoriza muito, mexe demais com as experiências feitas e cria um ambiente pesado para ele.
 
Ou será que estamos esperando demais dessa geração que está aí?
 
Há uma certa miséria de talentos extra-classe e, em se tratando de torcedor, ele exige, na seleção, o mistério das grandes individualidades.
 
Seria isso, também ?