A nova lógica do futebol

Confira a coluna desta segunda-feira (3) do comentarista Wilton Bezerra

Quando o mundo foi tomado de assalto pela globalização, ouvi a conversa e perguntei se era uma coisa boa ou ruim.

Todas as transformações passaram a ser atribuídas e justificadas pela globalização, em sua marcha inexorável.

“Tudo vai ficar interligado, modernizado e facilitado mundialmente, sem que o nosso senso de pertencimento deixe de ser respeitado e celebrado”, foi a primeira explicação que me deixou satisfeito, mesmo sem entender a profundidade.

Frases de efeito se seguiram para garantir que o parangolé era de primeira qualidade: “O universal pelo regional” e uma sacada de Tolstoi na qual me amarrei: “Fale de sua aldeia e estarás falando do mundo”.

Me esgueirei pelos cantos da sala o máximo que pude para dizer que, no futebol, essa “tal globalização” não veio para apreciar nossas essências municipais ou estaduais.

Enquanto matam a pauladas os campeonatos estaduais, as taras da globalização vão dizimando as rivalidades locais, substituindo-as por uma construção de realidades interestaduais e intercontinentais.

A ordem, ainda oculta, pelos interesses políticos de federações e clubes, é no sentido de por fim a essa história de que os campeonatos estaduais guardam, na alma, alguma essência regional de valor

Sem hipocrisia, deviam anunciar logo a caminhada rumo à elitização, com fundo musical do tango, da rumba e do merengue, desprezando-se o resfolego da sanfona.

Daqui a pouco, em nome da ganância financeira globalizada e da falta de compromissos com o futebol, a própria Copa do Nordeste será vista como competição que atrapalha Copa do Brasil, Brasileirão, Sul-Americana e Libertadores.

No mais, é assistir a agonia dos resilientes, que mais lembram cadáveres insepultos.



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