Quando o mundo foi tomado de assalto pela globalização, ouvi a conversa e perguntei se era uma coisa boa ou ruim.
Todas as transformações passaram a ser atribuídas e justificadas pela globalização, em sua marcha inexorável.
“Tudo vai ficar interligado, modernizado e facilitado mundialmente, sem que o nosso senso de pertencimento deixe de ser respeitado e celebrado”, foi a primeira explicação que me deixou satisfeito, mesmo sem entender a profundidade.
Frases de efeito se seguiram para garantir que o parangolé era de primeira qualidade: “O universal pelo regional” e uma sacada de Tolstoi na qual me amarrei: “Fale de sua aldeia e estarás falando do mundo”.
Me esgueirei pelos cantos da sala o máximo que pude para dizer que, no futebol, essa “tal globalização” não veio para apreciar nossas essências municipais ou estaduais.
Enquanto matam a pauladas os campeonatos estaduais, as taras da globalização vão dizimando as rivalidades locais, substituindo-as por uma construção de realidades interestaduais e intercontinentais.
A ordem, ainda oculta, pelos interesses políticos de federações e clubes, é no sentido de por fim a essa história de que os campeonatos estaduais guardam, na alma, alguma essência regional de valor
Sem hipocrisia, deviam anunciar logo a caminhada rumo à elitização, com fundo musical do tango, da rumba e do merengue, desprezando-se o resfolego da sanfona.
Daqui a pouco, em nome da ganância financeira globalizada e da falta de compromissos com o futebol, a própria Copa do Nordeste será vista como competição que atrapalha Copa do Brasil, Brasileirão, Sul-Americana e Libertadores.
No mais, é assistir a agonia dos resilientes, que mais lembram cadáveres insepultos.