Mesmo quem apoia a gestão federal há de reconhecer que a oratória nunca foi o forte do presidente da República. Se na campanha Jair Bolsonaro (sem partido) faltou a debates, durante o mandato ele não se mostra afeito a transmitir à população mensagens como se espera de qualquer um que ocupe o cargo máximo do País.
Ao longo da semana, porém, pressionado por denúncias de corrupção envolvendo negociações para a compra de vacinas na CPI da Covid e pesquisas eleitorais que vêm sendo divulgadas (embora retratem apenas o momento atual e possam mudar de diferentes maneiras até 2022), Bolsonaro tem passado dos limites do razoável no uso da palavra.
Soma-se a estes dois "focos de incêndio" a revelação de um esquema de rachadinha com suposta participação do presidente, ainda quando era parlamentar. Com direito a ataque de seu advogado, Frederick Wassef, à jornalista que revelou a ilegalidade. Um absurdo que exige respostas mais enérgicas - e práticas - das instituições.
Não bastassem as recorrentes alegações de que a eleição de 2018 foi fraudada, sem apresentar nenhuma prova, com as ameaças de que, sem o voto impresso, não haverá disputa presidencial no ano que vem, ele não apenas acirra os ânimos institucionais. Mais do que isso, desestabiliza a democracia.
A coleção de palavras chulas despejadas nos últimos dias, contra a CPI da Covid e o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso, demonstra descontrole e, além disso, contradição.
Defensor do que chama de bons costumes, o presidente não tem governado pelo bom exemplo. Pelo contrário, prega proteção das crianças, preservação da família - para citar dois dos temas que versam sobre pautas ideológicas de seu Governo -, mas não sustenta o discurso quando expõe os brasileiros, quase que diariamente, à falta de educação. Retórica e só.
É, enfim, mais uma postura irresponsável. E de desvio do foco diante de tantas crises internas, porque o Governo certamente deveria ter pautas mais urgentes a tratar.
A tirar pelo comportamento recente, Bolsonaro demonstra, infelizmente, olhar mais para si - e para os seus - do que para o País.