Então é Natal, e o que a política fez?
Ao fim de um ano difícil, que deixa perdas irreparáveis para um País que se viu obrigado a conviver com o luto, o espírito natalino não deixou de aparecer: a empatia cruza com a solidariedade, a fé alimenta a esperança, é como se, por um instante, houvesse trégua para acreditar.
Os dias inspirados por bons exemplos, porém, evidenciam também chagas sociais que não cicatrizam no dia 25. O Natal, tempo de reflexão para tantos, deixa expostas realidades que precisam mudar. Mudanças que são, necessariamente, atravessadas pela política.
Se me perguntassem quais presentes os detentores de cargos eletivos poderiam dar aos brasileiros neste Natal, o primeiro que vem à mente seria acabar com a guerra política em torno da vacina.
Reconhecer a eficácia comprovada cientificamente dos imunizantes que têm contribuído para salvar vidas em meio à pandemia de Covid, valorizar a ciência, atuar coletivamente pela vacinação da população, inclusive das crianças. Não fazer de cada etapa da imunização um campo de batalha entre esferas de governo, campos ideológicos, grupos políticos. Colocar a saúde pública acima disso, enterrar o negacionismo.
A pandemia também deixou mais do que claro o quão essencial é investir em educação. A política deveria tratar de presentear os brasileiros com mais priorização da área. Não com os cortes noticiados com certa frequência, não com o Enem mais desigual da história, não com obstáculos no direito à educação. Há pressa para mitigar prejuízos ocasionados pela crise sanitária, para fazer o País avançar.
Desinformação
Os dois pontos anteriores levam a um terceiro: um combate sistemático à disseminação de informações falsas. O debate acerca das “fake news” já chegou ao Congresso Nacional há um tempo, há projetos em tramitação relacionados a isso, mas há de se avançar na pauta.
Só da CPI da Covid, por exemplo, saíram duas propostas que, atualmente, estão em comissões: o projeto de lei que coíbe a criação e a disseminação de notícias falsas por meio da internet e outro que criminaliza a criação e divulgação de notícias falsas, especialmente em casos envolvendo a saúde pública. Ambos ainda aguardam a designação de relatores. Encarar a problemática é um presente mais do que necessário.
Pobreza
O mais urgente, contudo, é enfrentar a pobreza. O Auxílio Brasil, com futuro ainda incerto, não tem dado conta do tamanho do abismo de desigualdade social existente no País. A classe política tem, para 2022, a obrigação de fazer avançar a implementação de uma renda básica como direito social. Passa pela política a garantia de dignidade a quem sofre com a fome e com outros males decorrentes da pobreza.
Por fim, os políticos devem presentear os brasileiros com mais transparência. Precisam estar mais conectados ao que vem das ruas, das redes sociais. Aproximar a população das discussões e torná-la, efetivamente, participante das decisões. As críticas feitas a matérias aprovadas no Legislativo decorrem, muitas vezes, da distância existente entre representantes e os que não se sentem representados.
Na lista de presentes há, portanto, obrigações. Há muito a ser feito além das mensagens de feliz Natal ao eleitorado.