A segunda turma do Supremo Tribunal Federal decidiu que o trabalho feito pelo então juiz Sergio Moro na ação do triplex envolvendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva está desfeito. Os ministros entenderam que Moro foi parcial na condução do processo enquanto juiz.
A Constituição brasileira prevê que juízes são figuras isentas dos casos que julgam. Na realidade é a condição básica para a atuação dos magistrados. Para o trabalho da defesa e da acusação, existem outras esferas da Justiça, como o Ministério Público (que acusa) e a Defensoria Pública ou advogados na sua atuação como profissional (que defendem).
No caso de Moro na ação do triplex, os ministros Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski e Cármen Lúcia decidiram que faltou, no mínimo, profissionalismo na condução do processo do ex-presidente. Segundo os ministros, não houve retidão, o ex-magistrado cometeu ilegalidades na análise das provas e na definição da sentença.
Durante todo esse episódio, que culminou na prisão por mais de 500 dias do ex-presidente da República, parte da esquerda brasileira apontava Moro como um "juiz parcial", que havia condenado o petista "sem provas". Lula foi preso reforçando esse discurso. Deixou a cadeia, também após decisão do STF, alimentando a pauta da "injustiça".
Não se sabe, ainda, se o ex-presidente cometeu algum crime sobre o patrimônio público, como foi a conclusão do processo anulado. Ainda nada foi provado, já que a condenação está desfeita, e o caso deverá tramitar na Justiça de Brasília. É bom lembrar que há outros processos tramitando contra o ex-presidente.
O que se pode afirmar nesse momento é que o petista virou o jogo e é hoje o grande vencedor do discurso político. A acusação de parcialidade do julgamento foi carimbada pelo Supremo Tribunal Federal, e isso gera credibilidade. Moro assiste a um momento diferente do que viveu anos atrás, quando ganhou notoriedade nacional no episódio da prisão de Lula, sendo o maior trunfo da finada Operação Lava Jato.
Moro, que prometia justiça aos crimes cometidos por empresários e políticos na vida pública, e que ganhou bastante apoio popular na trajetória contra a corrupção, perdeu a maior batalha com o caso Lula em meio à reviravolta judicial.
O ex-juiz já havia perdido apoio popular na relação tumultuada que teve à frente do Ministério da Justiça, na gestão do presidente Jair Bolsonaro, apesar de ter deixado o governo como pré-candidato presidencial. Agora, o ex-magistrado se vê fora do governo, fora da Justiça, e enfrenta uma situação nova, que é a de acusação do STF por cometer ilegalidades.