A coluna apurou que articulações de bastidores entre partidos vetaram o PT de coordenar a bancada cearense nesta legislatura. O governador Elmano de Freitas (PT) não teria participado das conversas.
De forma reservada, parlamentares admitem que um nome do mesmo partido do governador Elmano e do presidente Lula na coordenação poderia atrapalhar a relação com a oposição e lideranças independentes. Por outro lado, alguns chegam a falar publicamente sobre o assunto.
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Em contato com a coluna, o deputado federal Eduardo Bismarck (PDT), que é cotado para assumir a coordenação da bancada neste ano, afirmou que não é "saudável" que o PT assuma essa posição de articulação para não "atrapalhar o diálogo com quem é da oposição".
"Existe um entendimento do grupo de que não é saudável. O PT tem dificuldade de dialogar com a oposição dele. A bancada é uma coisa suprapartidária", disse o pedetista à coluna.
O argumento é reforçado pelo deputado Célio Studart (PSD) que já adiantou que o partido vai votar unido na candidatura de Bismarck.
"Temos (acordo) no sentido de que realmente não faz sentido o líder da bancada ser do mesmo partido do governo estadual e do governo federal. Isso isola os outros partidos. Tem que ser neutro, nem tanto da base muito menos da oposição porque ele é um elo de construção entre a bancada e os dois governos", detalhou.
Na próxima terça-feira (14), às 17h, os deputados federais e senadores devem se reunir de forma híbrida para definir a próxima coordenação da bancada. Assim como Bismarck, o nome da deputada federal Luizianne Lins (PT) estava colocado como candidata.
Bismarck, no entanto, contabiliza 17 votos em apoio a ele, e disse que, enquanto o PT ficar fora do grupo, e insistir na candidatura da ex-prefeita, poderá ficar também de fora das decisões.
"São necessários 12 deputados para definir a coordenação e 17 para definir o orçamento. Hoje temos 17 que declararam apoio. Se o PT ficar fora serão os 17 que irão definir", adiantou.
Apesar do acordo, o deputado diz que não tem nada contra a deputada Luizianne e diz que poderia apoiá-la no "futuro". "Não tenho nada contra a Luizianne. Gosto dela como pessoa e poderia apoiá-la no futuro, mas não vejo como sendo saudável nesse primeiro ano de governo o PT estar liderando a bancada".
Eduardo Bismarck (PDT) afirmou também à coluna que há um acordo que tem como parâmetro o tamanho dos partidos para liderar a coordenação nos próximos anos. Como o PDT tem a maior quantidade de cadeiras na Câmara dos Deputados pela bancada do Ceará, assumiria a função logo no primeiro ano.
No ano que vem, ainda segundo o pedetista, a vaga seria do União Brasil, que tem a segunda maior bancada entre os federais eleitos. A informação foi confirmada pela deputada federal Fernanda Pessoa (União). Segundo ela, o deputado federal Moses Rodrigues (União) mostrou interesse em disputar o posto.
A parlamentar, no entanto, diz que só foi comunicada do acordo quando questionou a direção partidária. "Não pode ter um acordo sendo que nem todos do partido participaram. Pra mim isso é imposição", argumentou.
"Eu tenho candidata que é a Luizianne. Temos agora a primeira oportunidade de ter três parlamentares mulheres na bancada. Ela tem condições, é capacitada, tem experiência. Era o momento de ter uma candidata mulher na bancada feminina", reforçou.
A coluna apurou que, sem o PT, os acordos já estabelecem coordenadores por pelo menos os próximos três anos, com Bismarck em 2023; Moses em 2024 e Domingos Neto em 2025. O PL é cotado para o último ano. Domingos e Moses foram procurados para comentar o assunto, mas não houve retorno.
Procurada pela coluna, a deputada federal Luizianne Lins (PT) afirmou que não é mais candidata à coordenação da bancada e que não quer divergência com os parlamentares. A movimentação que fez, segundo ela, foi para ajudar o governo. O anúncio deverá ser formalizado na reunião da próxima semana.
Não, não sou candidata à coordenadora da bancada. Para ser muito franca, logo depois que Elmano se elegeu, depois com a eleição do Lula presidente, com Governo Estadual e Governo Federal, buscando ajudar, tentando fazer a minha parte tanto no Estado quanto no Governo Federal, eu imaginei que poderia ser a coordenadora da bancada para ajudar o governo do Elmano, o Governo do Ceará, tendo em vista que nunca teve disputa por esse espaço e tendo em vista que eu sempre assinei todas as decisões da bancada embora nunca foi um espaço que eu participasse de forma sistemática, mas sempre estava representada e, ao mesmo tempo, sempre concordei com as decisões que a maioria tomou, mas agora não estou colocada como candidata à coordenadora da bancada
Luizianne disse ainda que não foi informada sobre acordos entre os parlamentares para as definições na bancada. "A coordenação da bancada vai estar conversando no dia 14, convocada pelo atual coordenador da bancada, mas eu posso lhe dizer que eu não sei se esse acordo se concretizou, se ele houve, porém o que posso lhe dizer, se ele tivesse havido, primeiro que é muito esquisito", disse.
"Em oito anos que sou deputada federal nunca vi um acordo de partidos que não contemplasse ou que não tivesse acordo com o governo que estava no momento governando o Estado do Ceará. No mínimo é uma coisa estranha. Temos que entender que temos um governador eleito democraticamente com legitimidade pelo povo do Ceará chamado Elmano de Freitas, e acho que a liderança desse governador, a sua autoridade deve ser respeitada, preservada e considerada", finalizou.