Mansueto Almeida, do BTG: 'Brasil ainda não completou o ajuste fiscal'

Economista-chefe do BTG Pactual alerta para dívida crescente e juros elevados até 2026

Escrito por
Victor Ximenes producaodiario@svm.com.br
Legenda: Mansueto Almeida ressalta desafios no campo fiscal para a economia brasileira
Foto: Thiago Gadelha

O economista-chefe do BTG Pactual, Mansueto Almeida, afirmou, durante passagem por Fortaleza, nesta quinta-feira (27), que o principal desafio macroeconômico do país ainda é a falta de consolidação fiscal.

Em entrevista a esta Coluna, ele destacou que, apesar dos esforços recentes do Ministério da Fazenda, “o Brasil ainda não completou o ajuste fiscal”. Para ele, o déficit nominal continuará elevado e a dívida pública seguirá em trajetória de alta até o final do atual governo.

“A gente está hoje com déficit fiscal, quando eu incluo o pagamento de juros sobre a dívida, de quase 1 trilhão de reais”.
Mansueto Almeida
Economista-chefe do BTG Pactual

Endividamento

O economista cearense acrescentou que, mesmo com possíveis avanços nas contas públicas em 2025 e 2026, o endividamento seguirá crescendo.

“Nós teremos completado o ajuste fiscal quando a gente puder olhar à frente e ver que em determinado momento a dívida pública do Brasil vai começar a cair. Hoje a gente não sabe quando isso vai acontecer”.

Juros elevados

Mansueto chamou atenção para o impacto disso nas taxas de juros. A taxa real de longo prazo, que serve de referência para os títulos públicos indexados à inflação (NTN-B), está em 7,5%. “É muito alto, não tem nenhum país do mundo que consiga se financiar por muitos anos pagando juro real de 7,5%”, alertou.

Segundo ele, o Brasil deve enfrentar dois anos seguidos de juros reais elevados. A Selic, hoje em 14,25%, deve chegar a 14,75% em maio, conforme expectativas do mercado. “O mercado espera que a taxa Selic vai ficar ali muito próxima de 15% [...] para uma inflação entre 5,5% e 6%, estamos falando de uma taxa de juro real de 9%”, afirmou.

Apesar disso, ele projeta que a economia brasileira continuará crescendo, embora em ritmo mais lento. “A economia vai continuar crescendo, deve crescer perto de 2%, mas crescerá num ritmo inferior ao que foi os últimos dois anos”.

Economia do Ceará: turismo, energia e data centers

Sobre a economia do Ceará, Mansueto destacou o desempenho recente impulsionado por consumo e turismo, e apontou oportunidades futuras com energias renováveis.

Ele citou o potencial do estado na atração de investimentos em data centers, cuja demanda por energia limpa pode favorecer regiões com forte geração renovável. “Colocar o data center perto de um centro de geração de energia renovável é um fator que vai ser muito importante”, afirmou.

 

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