Para quem viveu a crise energética do início deste milênio, as palavras apagão e racionamento ainda causam arrepios. Nas últimas semanas, com a eclosão do colapso hídrico no País, estes termos fantasmagóricos voltaram a assustar. Mas será que há chances concretas de reprise dos episódios de duas décadas atrás? A Coluna consultou especialistas para avaliar o cenário.
"O risco de racionamento é mínimo, mas por um longo período estaremos consumindo uma energia mais cara", avalia Jurandir Picanço, consultor de Energia da Fiec e presidente da Câmara Setorial de Energias Renováveis do Ceará.
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Ele explica que o quadro difere daquele observado em 2001, quando ocorreu o racionamento no Brasil, pois a dependência pela energia das hidrelétricas é menor. "As termelétricas que dão segurança ao sistema estão todas acionadas, o que não havia naquela época", argumenta.
O problema é que o acionamento destas térmicas custa caro, e o ônus recai sobre o consumidor na conta de energia. Durante o mês de junho, está em vigência a bandeira tarifária vermelha 2, a mais cara do sistema, A expectativa é que isto perdure até o fim do ano.
Daniel Queiroz, diretor técnico do Sindienergia-CE, acompanha a linha de projeção de Jurandir Picanço: "O nosso risco mais urgente não é um risco de apagão ou racionamento, mas sim, de aumento na conta de energia, que é o que está acontecendo por conta da utilização das termelétricas", as quais ele compara a um "cheque especial" do mercado de energia elétrica.
Para que o País se torne menos vulnerável futuramente, Picanço defende o estímulo à geração própria de energia. De acordo com ele, o Brasil já conta com um conjunto robusto de empresas capazes de atender a uma grande demanda.
"Seria plenamente viável, com essa geração, economizar o equivalente a 15% da energia acumulada nos reservatórios. No passado, os consumidores foram obrigados a reduzir 20% do seu consumo. Hoje eles podem produzir até 100% do que consomem".
Sobre a geração própria de energia, Daniel Queiroz destaca que "o consumidor final tem como ter acesso a meios para preservar o meio ambiente e também gerar uma energia mais barata e eficiente para a sua residência ou operação, comércio, escola, driblando esta crise energética no que se refere aos aumentos constantes de custos”.
Picanço considera imprescindível a realização de mudanças profundas nos critérios de operação das hidrelétricas com grandes reservatórios.
As fontes renováveis de energia eólica e solar fotovoltaica são as que produzem energia ao menor custo, entretanto, por serem variáveis, precisam estar associadas a outras formas que acumulem energia, pontua. "A gestão integrada das usinas renováveis variáveis com as hidrelétricas minimizaria os riscos".
Ele avalia ainda que o País absorveu as lições deixadas pela crise de 2001. Hoje, garante o especialista, a segurança energética é consideravelmente maior.