O que se viu na Black Friday deste ano sintetiza a economia do Brasil de 2021. Cenas clássicas de outros anos, com consumidores carregando TVs e se acotovelando por produtos eletrônicos, deram lugar a um cenário bem diferente.
Ganharam espaço produtos de tíquete baixo, principalmente os relacionados à higiene pessoal, como desodorantes, absorventes, shampoos, fraldas, e alguns alimentos (chocolates, salgadinhos, etc).
Não é que os consumidores deixaram de desejar celulares, TVs, computadores e outros eletrônicos. Estes, como de costume na data, continuaram em alta nas buscas. O problema é que, em linhas gerais, a pressão da inflação impediu a oferta de descontos realmente atrativos para esses nichos.
Além disso, o derretimento na renda da população, que vem sofrendo com os preços elevados de alimentos, combustíveis e outros produtos de primeira necessidade, deixou pouco espaço para compras mais gordas.
Quitar dívidas é prioridade
Em um giro por Fortaleza, em vez de lojas lotadas, as equipes do Diário do Nordeste viram uma presença maciça de pessoas que se alinharam em uma longa fila na Praça do Ferreira, Centro, para negociar dívidas no Feirão Limpa Nome do Serasa.
Foram registrados também consumidores com volumosas sacolas cheias de itens básicos, como os já citados desodorantes, lenços umedecidos, chocolates, pacotes de salgadinhos e itens baratos de vestuário.
Essas mercadorias, conforme relatado pelos próprios caçadores de descontos, estavam com preços vantajosos. Alguns aproveitaram para criar estoque. Errados não estão.
Essa nova cara da Black Friday versão brasileira, forçada pela proliferação da pobreza e pela disparada dos preços, é o retrato do País em que o poder de compra da população rasteja.