Houve um tempo em que era quase impossível um time cearense ganhar de qualquer time grande do Rio de Janeiro, quer aqui, quer no Maracanã. De certa época para cá, a coisa mudou de feição. Fortaleza e Ceará andaram aprontando poucas e boas nas barbas dos cariocas. Vitórias sobre o Flamengo, diante de um Maracanã superlotado, já aconteceram. No ano passado, por exemplo, o Leão, então lanterna da Série A nacional, emudeceu a massa rubro-negra. Fez silenciar 63 mil torcedores. Ganhou (1 x 2), com gols de Robson e Hércules. Então, tudo é possível no jogo de logo mais.
Mesmo assim, há que se reconhecer o Flamengo como favorito. Lógico. Tem jogadores de alta qualidade como Everton Ribeiro, Gerson, Pedro, Gabriel, Arrascaeta, Bruno Henrique e o cearense Everton Cebolinha. Mas favoritismo não é sinônimo de vitória: é um indicativo de certas vantagens. O Flamengo no Maracanã sempre terá um fator positivo a mais: a sua imensa torcida, que faz a diferença. Importante é que o Fortaleza retomou o ritmo de suas melhores apresentações, como restou provado nas vitórias sobre o Cruzeiro, o Atlético-MG e o Palestino. Portanto, o Leão pode, sim, mais uma vez surpreender o Flamengo em pleno Maracanã.
É importante observar como o técnico do Fortaleza, Juan Pablo Vojvoda, consegue alterar o modelo tático tricolor. Certamente essa qualidade lhe permite retomadas que nem todos os treinadores conseguem. Não é a primeira vez que o time cai de produção. Dá a impressão de que perdeu o norte, mas se recupera a tempo.
Há jogadores que deixam uma marca mais forte. E, quando são transferidos, abrem uma lacuna. Preencher essa lacuna pode demandar muito tempo. É o caso de Moisés. Pelo seu desempenho na ocasião, tornou-se imprescindível. Ainda não apareceu o nome ideal para substituí-lo à altura. Missão para Vojvoda. Já, já, ele encontra a forma de neutralizar a saída de Moisés.
O Ceará novamente de técnico novo. Queira Deus que o treinador Guto Ferreira alcance o mesmo êxito que alcançou quando da passagem que culminou com a conquista do título de campeão da Copa do Nordeste. Mas uma coisa é notória: a qualidade do elenco de hoje, numa análise comparativa, é inferior ao time que Guto dirigiu na sua passagem anterior.
Praticamente tendo comandado um treino só, poderá o técnico Guto mudar para melhor a produção alvinegra? Pela lógica, não. Mas o futebol é repleto de mistérios. Às vezes, uma pequena alteração vira heureca. E o time descobre caminhos que estavam embotando a sua produção. Acontece no futebol, embora não muito frequente.
O Ceará tem obtido resultados que deixam confusos até os mais experientes cronistas esportivos. O mesmo time, que diversas vezes complicou em casa, é o que obteve importantes vitórias fora de casa. Uma inversão que foge à natureza das coisas. O mais comum é o contrário. Agora é esperar o que Guto vai fazer. Há técnicos que conseguem tirar leite de pedra.