As fases da vida variam muito. Há quem acredite nas mensagens dos astros. Outros acreditam nas premonições. Os supersticiosos imaginam mil coisas. Enfim, cada um à sua maneira. A verdade é que há dias em que a pessoa parece estar iluminada. Aí tudo dá certo. No domingo, em Juazeiro do Norte, Yago Pikachu recebeu todas as bênçãos, todos os fluidos bons. Fez uma apresentação impecável. Aliás, há muito venho perguntando: qual é verdadeiramente a posição de Pikachu? De origem, lateral-direito. Foi assim que, de 2012 a 2016, eu o vi brilhar no Paysandu de Belém.
Depois, de 2066 a 2020, eu o vi melhor ainda no Vasco da Gama. Já aí mais versátil. Lateral-direito, volante, ponta-direita, centroavante, meia... No Fortaleza tem feito história. Na goleada sobre o Barbalha, no Estádio Romeirão, um desfile de lances e gols, de talento e aplicação, de habilidade e visão de jogo. No dia em que o atleta está ungido, a bola o procura na hora certa, no lugar certo. É tudo tão natural, tão espontâneo, fruto da improvisação peculiar dos artistas da bola. Yago Pikachu deu um concerto de futebol. Mostrou, para todos os públicos, seu repertório qualificado e variado. Se duvidarem, ele dará show até atuando como goleiro.
Vendo Yago Pikachu iluminado, lembrei do inesquecível Roberto Dinamite, quando retornou do Barcelona para o Vasco da Gama em 1980. Na sua estreia, diante do Corinthians, pelo Campeonato Brasileiro, Roberto marcou os cinco gols da vitória vascaína (5 x 2). Quem quiser rever esse momento esplendoroso do saudoso Dinamite basta buscar no Youtube. Há vídeo disponível.
Os torcedores geralmente lembram do dia iluminado dos atacantes porque resulta em muitos gols. Mas há também o dia iluminado dos goleiros. O dia em que ele pega tudo e mais alguma coisa. Em 1959, no Estádio da Fonte Nova, um goleiro cearense entrou para a história: Gilvan Dias. Dizem que foi a mais bela atuação de um goleiro naquele palco baiano. Mas quem foi Gilvan Dias?
O goleiro Gilvan Dias fez parte do elenco do Gentilândia, campeão cearense de 1956. Depois atuou no Ceará e no Ferroviário. Ele também foi técnico do América, campeão cearense de 1966. Quando encerrou a carreira, passou a ser repórter da Rádio Uirapuru. Posteriormente, foi comentarista da Rádio Dragão do Mar. Ele foi também presidente da APCDEC, entidade dos cronistas esportivos.
Gilvan era reserva do Ceará na Taça Brasil de 1959. O goleiro titular, Harry-Carey, jogou no PV (Ceará 0 x 0 Bahia) e na Fonte Nova (Bahia 2 x 2 Ceará). Mas, no jogo desempate na Fonte Nova, quem atuou foi Gilvam Dias. Deu 1 x 1 no tempo normal. Na prorrogação, aos 13 minutos do segundo tempo, faltando dois minutos para terminar o jogo, Léo fez o gol que classificou o Bahia.
Gilvan foi titular no jogo desempate porque Harry-Carey estava contundido. Gilvan surpreendeu. Fez defesas sensacionais e inacreditáveis. Eleito pela crônica o melhor do jogo. Saiu de campo aplaudido pela torcida baiana. Durante muito tempo se disse que foi dele a maior atuação de um goleiro na Fonte Nova. O gol de Léo foi mesmo indefensável. Momentos mágicos do futebol.