Os jogadores estão se apresentando aos clubes para o início dos trabalhos de 2024. São submetidos a exames de praxe. Aí, já no dia 20 de janeiro, a bola começa a rolar. Quanto tempo de preparação? Nada. Já, já, começam as competições. Não sei até quando este calendário louco será mantido. Por isso é que os europeus demonstram mais preparo físico, quando atuam contra os times brasileiros nas decisões dos mundiais de clubes. Há alguns anos, existia uma pré-temporada de verdade. No mínimo 40 dias.
Em 1984, o Ceará contratou o técnico Carlos Alberto Zanata. Houve uma pré-temporada de mais de um mês, com jogos amistosos até em algumas cidades do interior. Zanata escolheu, de forma gradual, os adversários mais fracos nos primeiros jogos. Depois, foi selecionando os adversários mais difíceis. Então, no momento em que tiveram início os jogos oficiais, a equipe estava pronta para a competição. Resultado: no final da temporada, o Ceará deu a volta olímpica, comemorando o título de campeão estadual. Agora o time se apresenta e, poucos dias depois, já tem que encarar os duros desafios em campo. Por mais paradoxal que pareça, a pré-temporada passa a ser o próprio campeonato estadual.
Costumo não fazer comentários sobre os jogadores que são contratados no início da temporada. Vejo o currículo (geralmente muito bom), a estatística e suas últimas atuações no ano anterior. Síntese: dados que ajudam a montar o perfil do atleta. Entretanto, somente será possível uma avaliação concreta quando a bola rolar para valer.
O expediente da rasteira existiu forte no futebol cearense na década de 1960. O jogador chegava para atuar em determinado clube. Aí, o time rival, no próprio aeroporto, cuidava de desviar o caminho do atleta para o time adversário. Isso era chamado de rasteira. Hoje não existe mais ambiente para práticas assim.
Hoje, o que tem pesado para definir o rumo dos atletas é o cofre. Quem tem mais lastro geralmente consegue a contratação. Mas isso é diferente de rasteira ou chapéu como aplicado antigamente. Uma coisa nada tem a ver com a outra. É disputa de mercado. No mundo dos negócios, o dinheiro é que manda.
Há casos isolados onde nem sempre a maior oferta define. Caso concreto: a permanência de Juan Pablo Vojvoda no Fortaleza. O treinador pode até ter recebido propostas mais interessantes financeiramente, mas, na hora de examinar a questão, pesaram as condições especiais que ele tem no clube.
A pré-temporada, no modelo antigo, não existe mais. Os jogadores praticamente saem das férias quase direto para a disputa do certame estadual. Quando chega novembro, o esgotamento acontece. No meio do ano já serão sentidos os primeiros sinais de cansaço. Isso só melhorará quando os donos do alto escalão do esporte entenderem que atleta também é gente.