A coragem para cuidar da saúde mental é urgente

Legenda: "Precisamos proteger nossa cabeça e nosso corpo, em vez de ir lá e fazer o que o mundo espera de nós”, disse a norte-americana negra Simone Biles
Foto: Lionel Bonaventure / AFP

Em alguma medida, nas últimas semanas, todos nos vimos parando em frente à TV ou checando no celular o resultado de alguma disputa das Olimpíadas de Tóquio. Muita gente acordou de madrugada ou não dormiu para acompanhar o fuso horário do país-sede, lá do outro lado do mundo. Tudo isso para vermos o Brasil avançar na conquista de medalhas, ocupando novos espaços, mas, sobretudo, para vermos humanidade, em uma competição que já faz história pela diversidade entre seus participantes.

De 302 atletas do Brasil, 47% são mulheres. No comitê organizador, o número de integrantes mulheres aumentou 50% em comparação com 2013. Entre atletas de todas as seleções, 48,8% das participantes são mulheres, um percentual histórico. Além disso, pela primeira vez, atletas transgêneros participam dos jogos e um grande número já se declarou abertamente LGBTQI+.

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Temos aqui um importante momento de construção de ídolos. Podemos pensar que nossas meninas crescerão fãs de uma skatista vencedora, e não mais precisarão admirar somente meninos. Os meninos, por sua vez, estão vendo que as meninas são capazes dos mesmos feitos que eles. Meninas negras e periféricas estão vencendo disputas e assegurando medalhas. É, sem dúvida, um enfrentamento real ao racismo.

Mas não é só isso. Em um evento assombrado pela pandemia do coronavírus, doença que segue matando milhares de pessoas diariamente, os atletas mostraram-se demasiadamente humanos, assumindo suas fraquezas e recuando das batalhas, se necessário. 

“Nós precisamos nos concentrar em nós mesmas, porque, no final do dia, somos humanas também. Precisamos proteger nossa cabeça e nosso corpo, em vez de ir lá e fazer o que o mundo espera de nós”, disse a norte-americana negra Simone Biles, grande estrela da ginástica olímpica, ao desistir de algumas competições.

Que lição essa menina de 24 anos nos ensinou! Cuidar de nossa saúde mental é cada dia mais urgente. Quando, em uma competição internacional, participantes chamam atenção para esse cuidado, elas e eles iniciam um grande debate em torno do assunto. E como isso é valioso.

No mundo assombrado pelo coronavírus, o isolamento social se confundiu com solidão. Pensativos, pesamos nossas relações afetivas e muitos fomos nos fechando em casulos. Com tudo isso, vimos crescer índices de ansiedade, tensão, pânico... De acordo com a Organização Mundial de Saúde, o Brasil é o país com maior prevalência de depressão na América Latina e o mais ansioso do mundo.

Precisamos compreender nossos limites, admitir nossas fraquezas e entender que está tudo bem em nem sempre estar bem.

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora.