O que faz um artista ser considerado, de fato, artista? O que é preciso fazer ou estudar? Será que é preciso cursar uma graduação ou ter um grande currículo para alcançar o título? Qual será o selo de qualidade que carimba a “carteirinha de artista”?
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Dia desses, mais uma vez, fui tomado por uma pergunta que alguns teimam em repetir quando dou entrevistas: Sua carreira começou na novela A Força do Querer, certo? Isso sempre me faz refletir a respeito, porque logo volto à infância. Naquela época, eu cogitava ser médico, advogado - algo com a alcunha de “doutor” - ou até mesmo padre. Essas opções só passavam pela minha cabeça porque a Arte nunca era vista como profissão.
Quando criança, lembro que na escola, Educação Artística era executada como um passatempo, um momento de alívio. Nós tínhamos uma hora para desenhar, dançar, cantar ou desenvolver qualquer outra atividade desse tipo como uma espécie de descanso para a professora exausta.
Em casa, recordo de sempre ficar cantarolando as músicas da vitrola de meu pai ou de brincar no quintal de casa, “contracenando” com as árvores, reproduzindo cenas de filmes ou até apresentando o meu programa de entrevistas imaginário no banheiro, o SILVERSHOW.
As festas juninas eram o grande espetáculo a que eu tinha acesso em Mombaça. Me divertia e me deslumbrava com as danças, o casamento matuto, as decorações da rua, o sanfoneiro. Quando cheguei em Fortaleza, a primeira peça de teatro que assisti foi na Escola Técnica e, por ironia do destino, se chamava O Destino a Deus Pertence, e contava a história de uma criança que sonhava em ser artista, trabalhar em um circo e se tornava uma estrela.
Foi amor à primeira vista! Depois desse dia, entrei para uma oficina de teatro, larguei os planos de “doutor” e me formei em Artes Cênicas, fundei três grupos teatrais no Ceará, fiz mais de 30 espetáculos em diversas funções: ator, diretor, dramaturgo, iluminador, produtor, maquiador, sonoplasta, figurinista e outras tantas funções que o teatro pode oferecer e que fiz questão de aprender um pouco de cada uma delas.
De lá pra cá, são 25 anos dedicados à arte. A novela, claro, me fez chegar em um público ainda maior pelo alcance da TV e das redes sociais. Mais gente passou a conhecer o meu trabalho, mais gente passou a me enxergar como artista, afinal, existe a ideia fantasiosa de que ser famoso é ser artista. O que também não quer dizer que alguém famoso não possa se tornar artista.
Pra mim, ser artista é ser inconformado. Em algumas fases da vida, podemos até não ter horário de expediente fixo, mas nunca deixamos de trabalhar. Estamos atentos o tempo inteiro, deixando que os olhos captem lentamente os pequenos detalhes do mundo, que usaremos no momento mais oportuno.
Mas ser artista também é dedicação, estudo e pesquisa. Não acredito na arte pelo dom divino, algo de privilégio. Acredito na potência de querer ser artista. Pra isso, é preciso coragem e disposição.
Quem quer deixar legado, sabe bem que precisa de alicerce, de base, de informação, de erros e acertos e humildade para passar por tudo isso. E não há nada de errado em ser um inconformado, que leva arte para público, independente do meio.
Então, definitivamente, minha carreira não começou em A Força do Querer, em 2017. E já adianto que também não começou em 2022, com Pantanal. Tampouco em 1997 ou qualquer outro ano. Eu nasci artista, porque nasci inquieto. Mas também me tornei artista, porque fiz da minha inquietação a válvula propulsora do meu ofício. Estudei, trabalhei, me especializei e me entreguei à arte.
E está tudo certo em ser e se tornar. A arte é maior do que isso.
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.