Natália Régia e a xenofobia que cresce na Internet

Internet não é terra sem lei e nem tudo o que se fala é só a sua opinião, às vezes é crime

É curioso pensar em como as redes sociais ainda representam um lugar seguro no que diz respeito à liberdade de propagar discursos de ódio. “Protegidos” por uma tela de computador ou celular, milhares de pessoas se sentem no direito de atacar outras pelos mais variados motivos, seja misoginia, homofobia, racismo, gordofobia, intolerância religiosa ou xenofobia, o meu tema de hoje.

No último dia 30 de junho, a atriz e roteirista Natália Régia, cearense que mora no Rio de Janeiro, foi massivamente atacada no Instagram após publicar um vídeo humorístico comparando as festas juninas do Nordeste e do Sudeste. O vídeo viralizou imediatamente e Natália começou a receber comentários ofensivos sobre ser nordestina.

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“O estado de vocês sabe tudo de São João, mas e agora que tal se desenvolver” e “Nordestino tem mais é que calar a boca” foram algumas das mensagens, entre outras piores. Ao contrário dos comentários, o conteúdo da atriz não possuía nada além de uma piada sobre a variação de nomes de pratos típicos como canjica, mungunzá e cural.

Isso mesmo, uma piada sobre pratos típicos resultou em uma onda de xenofobia, onde as pessoas se sentiram no direito de usar esse conteúdo para atacar pessoalmente a cearense. Eu nem pretendo adentrar no assunto do São João em si e nem começar a explicar o óbvio sobre a relação do Nordeste com essa festividade, mas imagina se a gente começasse a fazer chimarrão, o que diriam da gente?

Dentre todos os crimes de discursos de ódio na internet, o que mais cresceu em número de denúncias no Brasil foi a xenofobia. Entre os anos de 2021 e 2022, esse crime teve um aumento de 874%, com 10.686 casos relatados para a Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos da Safernet, organização de defesa dos Direitos Humanos em ambiente virtual.

Sinceramente, eu não consigo compreender as motivações pra essa aversão burra contra o Nordeste, mas acho importante dizer que mesmo nesta era em que tudo é digital e que as pessoas insistem em falar o que quiserem sem medo de retaliação, nem tudo o que se fala “é só uma opinião”, às vezes pode ser crime e crime se combate.

Caso você tenha sofrido xenofobia ou qualquer outro tipo de violência na internet, como os citados anteriormente, denuncie. Você pode ligar para o Disque Direitos Humanos (Disque 100), acessar o Safernet ou procurar uma delegacia. No Ceará, desde 2020, há a Delegacia de Repressão aos Crimes Cibernéticos.

E vamos combinar uma coisa? Mungunzá é mungunzá. Canjica é canjica.Cural é outra coisa é xenofobia é crime.

*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor

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