Já escrevi aqui algumas vezes sobre como eu entrei na Arte por arrebatamento. Nunca pensei em ser artista, mas quando me deparei com uma peça de teatro pela primeira vez, fui tomado por uma magia que me fez querer saber mais, estudar sobre, fazer faculdade de Artes Cênicas e me tornar um profissional.
Nesse início de carreira, existia no Ceará uma efervescência cultural que precisava ser colocada numa agenda, dessas antigas de caderninho, pra gente conseguir dar conta de lembrar tantos espaços e tantas programações que aconteciam ao mesmo tempo.
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Lembro do ”Sobremesa com Arte”, ”Bec Seis e Meia”, Sesc 24 de Maio, Centro Cultural Banco do Nordeste, Ibeu Centro, os infantis do Ibeu Aldeota, do Teatro Marista, Dragão do Mar, o ”Palco sob a Passarela” ou a programação de ”Terça de graça“.
Nessa época, também tinham muitos festivais como os de Acopiara, Senador Pompeu, Mostra Sesc Cariri, Festival de Teatro de Fortaleza e Festival de Guaramiranga - este último, em especial, se mostrou ainda forte e essencial na história do teatro nordestino, mesmo após a crise pandêmica.
Já do Festival de Teatro de Fortaleza, eu não posso falar o mesmo. Primeiramente, é preciso destacar os cachês ínfimos para grupos, de 2 a 3 mil reais. Em segundo lugar, a demora para a realização do Festival, que deveria ter acontecido no primeiro semestre, e em seguida o adiamento do mesmo nas vésperas de sua abertura, sem qualquer explicação ou diálogo com os artistas.
Em terceiro lugar, a execução do festival por parte de uma produtora licenciada que, aparentemente, não tem a menor experiência, visto a série de erros na produção e tratativa com os artistas. Inclusive, devo destacar a forma como o grupo Nois de Teatro, que comemora 20 anos de existência e trabalho ininterrupto em 2022, e seria o coletivo “homenageado” da edição, foi destratado e descartado.
Além disso, há uma série de relatos de artistas contemplados, que passaram por péssimas condições de trabalho ou que foram mal tratados nos bastidores. Sem contar a programação às escondidas.
Como fomentar o teatro local, promover formação de plateia e, de fato, ter “a cidade como palco”, com a péssima divulgação? O Festival de Teatro de Fortaleza só começou a se divulgar na tarde de sua estreia.
Confesso que eu mesmo só soube da existência do Festival por conta de três colegas que estavam se apresentando. Não havia qualquer divulgação seja em rede social, flyer, panfleto, outdoor, rádio, nada. Os próprios artistas tiveram que dar conta de suas divulgações num primeiro momento.
Fazer arte para a própria bolha não cumpre seu principal papel, que é atingir o público, fazer pensar, criar novas plateias, valorizar e fortalecer o teatro local. Me sinto até repetitivo sobre o tanto que peço respeito aos artistas e trabalhadores da Cultura, mas farei quantas vezes forem necessárias.
É preciso pensar o Festival de Teatro de Fortaleza não somente como cumprimento de promessa de um Secretário, mas como ferramenta de incentivo à arte, de valorização dos artistas, de caminho de trabalho com dignidade, produzido e executado da forma como deve ser.
Vida longa ao FTF, mas vida ainda mais longa aos artistas dessa cidade que seguem resistindo.
* Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor