Lembro da primeira vez que ouvi o cantor Rodrigo Ferrera, foi lindo. Sem perder tempo, o convidei pra uma participação no espetáculo Cabaré das Travestidas. Ele não tinha peruca, nem muita habilidade com maquiagem, não tinha figurino ou salto alto, nunca tinha feito uma drag queen na vida.
Na hora de subir ao palco, Deydianne Piaf perguntou: – Que nome eu te apresento?
No impulso, saiu “Mulher Barbada”, com a desculpa de que depois pensaria em um nome melhor, mas nunca mudou. Naquele dia, nasceu uma das mais incríveis drag queens do Ceará. E isso não é achismo, opinião de quem viveu muita coisa junto dela ao longo dessa década, mas de alguém com provas, basta ouvir o álbum BÁRBARA!, o primeiro da carreira da cantora.
"BÁRBARA!" possui nove músicas, algumas eu já conhecia, como “Ressaca” e “Tua Tatuagem”, outras me deixaram contemplativo, em outras saí mais dançante. Tem rock, tem reggae, tem mambo, um tanto de pop, um caldeirão de referências, cheio de versatilidade, de personalidade, com uma produção finíssima de Guilherme Kastrup e Caio Castelo.
Sou suspeito para falar dessa direção musical e da banda, porque Barbada e eu dividimos os mesmos amigos talentosos: Vladya Mendes, Dândara Marquês, Joana Lima e Caio. Então, além de reconhecer o primor do álbum e ter visto o show, sei também do empenho e da dedicação que esse grupo, com a Peixe-Mulher, colocam em cada nota e em cada apresentação.
As músicas, quando ouvidas em ordem, contam uma história, falam de amor, mas também de desamor, de revolta, aflora os sentimentos, ferve as emoções, começa com romance, vive o luto e termina em festa, como quase tudo na vida, como ela deve ser vivida, afinal.
Na música “A Mulher Barbada” - que Rodrigo cantou tantas vezes no início de sua carreira, Adriana Calcanhotto joga no ar, quase como um suspiro distraído, perguntas como:
– Com o que será que sonha a Mulher Barbada?
– Será que no sonho ela salta como a trapezista?
– Será que sonhando se arrisca como o domador?
Eu não sei, Adriana. Acho pouco provável. A Mulher Barbada que conheci não foi no circo, foi no teatro, no palco, no bar, na praça. A drag queen Mulher Barbada que conheci é uma rockstar, flerta com a MPB, faz as pessoas sambarem e bota bloco de carnaval na rua. Não sei qual o novo sonho dela, mas sei que agora ela realizou um. Que bom! Que venham mais sonhos!
Escutem BÁRBARA! em todas as plataformas digitais.
*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor
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