2022: o ano do recomeço da Cultura

Falta pouquinho para o ano acabar e 2022, sem dúvidas, foi o ano do recomeço. A esperança e os ventos de mudança sopravam desde o primeiro mês e eu torcia para que a Cultura também vencesse a pandemia. O mundo aos poucos foi voltando ao normal, a vacina foi controlando a contaminação de Covid-19, as máscaras foram deixadas em casa e as pessoas voltaram a ver a arte acontecer fora das telas de celulares e computadores.

Aqui no Brasil, o gostinho de transformação era ainda maior com o ano de eleição. Nós, artistas, sabíamos que esta seria uma eleição decisiva para os rumos da cultura. E foi! Terminaremos 2022 com o retorno do Ministério da Cultura, Margareth Menezes como a grande representante da pasta e a previsão de um orçamento histórico para o setor a partir do ano que vem.

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A questão é que no meio disso, no miolo, no desenrolar dos meses, muita coisa aconteceu (e deixou de acontecer), mas hoje, quero lembrar a mim e a todos que me acompanham nessa coluna, fatos da Cultura que me marcaram. Acredito que é uma maneira de enxergar a potência dos artistas e trabalhadores da cultura, afinal, já dizia Sartre: “é na adversidade que o artista mais cria”.

Fico até emocionado de pensar em tudo o aconteceu, porque foram meses muito intensos em minha vida. Eu vi o remake de Pantanal ser um sucesso e melhor ainda: eu fiz parte dele com um personagem incrível, o meu Zaquieu, contracenando com artistas que eu sou fã.

Eu vi Caetano Veloso completar 80 anos com o mesmo sorriso de menino de sempre, bem na minha frente, cantando ao lado dos filhos e de Maria Bethânia, fazendo eu me sentir um homem extremamente abençoado por aquele presente.

Quem também sempre fez eu me sentir um sujeito de sorte foi Belchior. Em 2022, estreei o show Silvero interpreta Belchior e fiz apresentações incríveis. Junto de outros grandes artistas, passei pelo Ceará, Rio Grande do Norte, Espírito Santo e São Paulo.

Voltei ao cinema com o filme Me Tira da Mira, com Cleo Pires, e Bem-vinda a Quixeramobim, de Halder Gomes, e no streaming, fiz minha estreia na Netflix com a série Nada Suspeitos, com um elenco primoroso. Atuar ao lado de Dhu Moraes, inclusive, foi como uma aula de vida.

Por falar em filme, todo o meu aplauso ao Medida Provisória, que no meio de um ano conturbadíssimo, lotou salas e mais salas de cinema com uma imensa provocação em forma de filme, um míssil teleguiado por Lazinho Ramos, com mira certa no racismo estrutural.

No setor de eventos, fui a vários festivais de música. A cadeia das grandes produções voltava a girar, empregando inúmeros trabalhadores. Dancei de Dua Lipa e Miley Cyrus, no Rock in Rio, até Wesley Safadão, no Garota Vip. Fora os festivais de cinema, que voltaram a abrilhantar o mundo presencialmente. Sem dúvidas, minha apresentação no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro marcou meu ano.

O mundo inteiro viu Anitta fazer história e ser a primeira artista brasileira a ganhar um VMA. Assim como todo mundo aplaudiu Ludmilla por vencer seu primeiro Grammy Latino. Para completar o meu trio de mulheres fabulosas, relembro aqui minha irmã Verónica Valenttino, a primeira artista trans a ganhar a maior premiação do teatro brasileiro, o troféu Bibi Ferreira, por sua brilhante atuação em Brenda Lee e o Palácio das Princesas. Um orgulho imenso!

No Ceará, ganhamos dois novos equipamentos culturais extremamente importantes: a Estação das Artes - com programações artísticas semanais, feiras, shows e exposições - e a maior Pinacoteca do Brasil, dentro da própria Estação. Fico feliz de ver que as pessoas têm comprado a ideia desses espaços e os frequentado. Torço para que tenha uma ótima gestão.

Já no teatro, em 2022, vi os grupos retornarem aos palcos de Fortaleza e lotarem as sessões, como a comédia “Conjunto Ceará Show” e o musical “Prometemos Não Chorar”.

Vi também a luta e a peleja por condições de trabalho e por cachês, onde os próprios artistas de teatro, como eu, tiveram que brigar e exigir seus direitos por melhorias na Cultura do Ceará, como infraestrutura e programação.

Por aqui, o coração também apertou de saudade. O Brasil se despediu de Gal Costa, Jô Soares, Elza e Maria Antônia. O artista é e sempre foi um catalisador de seu tempo, um ser inquieto, que não se conforma com o seu entorno e se instiga no criar, no fazer e no pensar. E se a saudade hoje bate é por saber que, para além da obra, esses artistas foram fundamentais para a construção do que queremos de humanidade.

Há um grande alívio hoje em saber que enquanto artistas, o pior já passou. Os tempos tenebrosos de apagamento e sucateamento dos movimentos culturais e de bloqueio de novas leis que beneficiavam o setor, em uma espécie de plano perverso de embrutecimento popular agora são parte do passado.

Não será nada fácil o ano que está por vir, mas nosso retorno é de refazimento, recriação, renascimento.

A esperança está instaurada e ansiosa para ver acontecer e eu mal posso esperar para ver o que os nossos artistas criarão em 2023, ainda maiores, melhores e mais fortes.

Axé pra nós!

*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora