Na modalidade corrida de obstáculo, o Brasil é ouro

Legenda: Rayssa Leal, aos 13 anos, foi medalha de prata no skate street das Olimpíadas de Tóquio
Foto: AFP

Os últimos acontecimentos nas Olimpíadas de Tóquio 2020 nos mostram a potência da delegação brasileira, que já é a segunda maior em 101 anos de participação do país em Olimpíadas. Destaca-se, neste ano, o perfil dos participantes, com significativa participação de pessoas negras, mulheres e nordestinas, principalmente, depois da inclusão das modalidades skate e surfe, em que Rayssa Leal se tornou a medalhista olímpica mais jovem do país. 

Nessa edição, tivemos a participação de 309 atletas, destes, 59 pardos; 84 pretos; 4 amarelos e 162 brancos. Regionalmente, 190 atletas são do Sudeste; 47 do Sul; 45 do Nordeste; 15 centro Oeste e apenas 3 pessoas do Norte.

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A importância do aporte e investimentos por meio de bolsas e patrocínios é nítida. 231 participantes recebem bolsa atleta, destes, 89 são das forças armadas. 178 têm patrocínios ou fazem permutas com as marcas para viabilizar seus treinos e participação. 

Contudo, 41 atletas tiveram que fazer “vaquinha” ou algum tipo de arrecadação solidária para garantirem sua participação nas olimpíadas. 33 atletas não se dedicam integralmente ao esporte, o conciliam com outra ocupação, sendo as mais comuns: motorista de aplicativos; educador físico; gestão e marketing; administração; professor; vendedor e fisioterapeuta.

Em um bate-papo com os olímpicos Ana Mozer do vôlei e Diogo Silva do taekwondo, a convite do Sesc Pinheiro, sobre políticas públicas de esporte, avaliamos parte dos dados que colhi do site do Globo Esporte e refletimos sobre os deságios do esporte brasileiro.

A questão regional foi levantada, já que muitos atletas, mesmo sendo oriundos das regiões Norte e Nordeste, muitas vezes, têm seus Centros de Treinamentos no Sudeste, mesmo já tendo espaços de excelência como o Centro de Formação Olímpica no Ceará. 

Outro elemento grave é a ausência de uma política publica de esporte pensada para o alto rendimento, a participação e o desenvolvimento de jovens atletas.

Quando observamos o ranking das medalhas olímpicas, com EUA, China e Rússia na liderança, logo identificamos que o bom desempenho está diretamente vinculado com políticas de Estado para esportes bem definidas, contínuas e permanentes. Além disso, são países em que os setores público e privado têm o esporte como um eixo estratégico para o desenvolvimento e, o mais importante, o lugar no ranking tem sintonia com o seu poder econômico. 

Infelizmente, algo que o Brasil, como oitava economia do mundo, não conseguiu conquistar o seu oitavo lugar no pódio olímpico. E não por falta de talento ou recursos humanos, mas por (falta de) vontade política.

Encerro trazendo uma reflexão e um incomodo necessário. Se nossos talentos esportivos, que todos exaltam as dificuldades vividas e os resultados obtidos, muitas vezes, pelo esforço próprio, tivessem uma trajetória diferente? 

Destaco isso, pois é uma regra injusta, um discurso meritocrático que se disfarça de conquista pessoal. Primeiro, é um sofrimento coletivo enorme, principalmente, para os que vêm de origem pobre e negra, que se tornam aposta e abdicação da família. Depois, pela luta do reconhecimento e consequente investimento. 

Convido o leitor a ver o vídeo das vitórias e medalhas conquistadas por um outro ângulo: ao invés de apostarmos no sofrimento e privação como marca, que tal construirmos um país de oportunidades? Se com enormes obstáculos nossos homens e mulheres conquistam amplas vitórias, se tivéssemos apoio sério e comprometido, onde estaríamos?

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.