Família trans do Ceará interrompe transição de gênero para ter bebê

O casal é grato pelo atendimento que tiveram no Sistema Único de Saúde (SUS). Dizem que foi inclusivo desde o começo, quando descobriram que o sonho da gravidez tinha se tornado realidade

Legenda: O operador de telemarketing Leonardo Oliveira, de 22 anos, é homem trans. A auxiliar de cozinha Arielly Germano, de 20, é travesti não binária.
Foto: Arquivo pessoal

No dia em que uma jovem denunciou que a transfobia a impediu de se exercitar numa academia de Juazeiro do Norte, trago esperança nesta coluna: a família trans que gerou um bebê graças ao atendimento inclusivo de profissionais do SUS no Ceará.

O operador de telemarketing Leonardo Oliveira, de 22 anos, é homem trans. A auxiliar de cozinha Arielly Germano, de 20, é travesti não binária. São dois seres humanos que, com o passar do tempo, não se identificaram com o corpo com que nasceram. Leo e Ari se apaixonaram. Juntos, faziam a transição de gênero, o que envolve tratamento complexo, de hormônios a sessões de terapia. E, também juntos, decidiram interromper a transição para gerar um filho.

Foi difícil. Leonardo aceitou o desafio de ver o corpo mudar com a gravidez: a barriga e os seios cresceram. Maria Dandara já tem um mês de vida. Arielly diz que o nome da filha é homenagem à revolucionária do quilombo dos Palmares.

transição
Legenda: Hoje, a família trans conta o dia a dia nas redes sociais. E tem milhares de seguidores.
Foto: Arquivo Pessoal

"Vou amamentar até quando ela quiser", afirma Leonardo. "Só depois vamos voltar para a transição."

O casal é grato pelo atendimento que tiveram no Sistema Único de Saúde (SUS). Dizem que foi inclusivo desde o começo, quando descobriram que o sonho da gravidez tinha se tornado realidade. Leonardo e Arielly eram atendidos na Oca de Saúde Comunitária, no conjunto São Cristóvão, espaço do SUS com oferta de terapias alternativas. Foi nesse espaço que terapeutas perceberam o corpo de Leonardo mudar.

“Lá recebemos apoio durante o processo de descoberta”, diz Leonardo.

O casal afirma que também encontraram posturas inclusivas nos profissionais do pré-natal no posto de saúde do bairro João Paulo II e do parto no Hospital César Cals.

Hoje, a família trans conta o dia a dia nas redes sociais. E tem milhares de seguidores. Além de Leonardo, Arielly e Maria Dandara, formam esse lar do bairro Jangurussu três gatos e o cachorro Black, a quem é atribuída uma sensibilidade especial: começou a dormir na barriga de Leonardo antes mesmo que a gravidez tivesse sido comprovada em exame.

A família vai crescer? 

"Meu sonho é ter cinco filhos correndo pela casa", afirma Arielly. Mas como o casal pretende retomar a transição, Leo e Ari acreditam que o irmão ou a irmã de Dandara chegará por meio de uma adoção.

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.

 



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