A máquina de mentiras parece inesgotável neste mundo de hoje, onde qualquer pessoa, independentemente de ter diploma de jornalista (o que acontece com aval do STF), publica informação com ares pseudojornalísticos.
A informação falsa mais recente aqui no Cariri é a de que a transposição do São Francisco foi paralisada e que isso foi feito para que os nordestinos seguissem dependendo de carro-pipa.
O difícil de ser jornalista é que você precisa fazer algo que dá trabalho: apurar, checar.
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Sendo assim, após apurações com fonte off ligada a esse tema, vamos aos fatos:
1º: A água parou de verter em novembro do ano passado da barragem de Jati para o Cinturão das Águas (CAC);
2º: Ainda era governo anterior;
3º: Isso foi feito porque não havia necessidade de água em abundância entrando na Bacia do Salgado, a que recebe a água da transposição no Ceará;
4º: O PISF (Projeto de Integração do São Francisco) tem como objetivo liberar água quando há necessidade;
5º: Água é paga à União pelo Estado que faz o pedido, afinal, além de o São Francisco ser um rio federal, custa caro a operação de transporte da água através de canais, barragens e estações de bombeamento: energia, pessoal, estrutura etc;
6º: Ninguém faz pedido de água sem necessidade;
7º: Há, sim, uma liberação de água do PISF sendo feita neste momento para a Barragem dos Porcos, em Jati, mas é menor e é usada em irrigação;
8º: Estamos em 30 dias de dois governos novos (federal e estadual) e as autoridades que gerenciam recursos hídricos tecnicamente ainda estão por serem mantidas ou escolhidas, autoridades essas que vão decidir sobre nova liberação para o CAC ou não;
9º: O programa de carro-pipa é necessário, sim, para comunidades que vivem longe de reservatórios, como é o caso de zona rurais de municípios na divisa com o Piauí, como Salitre e Campos Sales;
10º: A transposição em si resolve uma boa parte, mas todos os que realmente entendem de gerenciamento de recursos hídricos sabem que carro-pipa e cisternas são políticas complementares necessárias.
Vamos então aos fatos apurados com os órgãos responsáveis:
Em contato com esta coluna, o Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional nos disse que "é importante destacar que mesmo com a paralisação os reservatórios do PISF apresentam capacidade para manter o abastecimento nas regiões atendidas. Em relação ao trecho referente à estrutura inicial do Cinturão das Águas do Ceará (CAC), localizado em Jati (CE), informamos que desde 26/11/2022 não há liberação de água por esse canal. A entrega de água na região ocorre apenas sob demanda da operadora estadual do Ceará, de acordo com o Plano de Gestão Empresarial da Companhia".
Já a SRH nos esclareceu que:
"A água que os Estados recebem, oriundo do Projeto São Francisco, é definida através do POA (Plano Operativo Anual), onde os Estados formalizam o pedido de água para a União, e do PGA (Plano de Gestão Anual), que compila os POA’S e define a disponibilidade de água para cada Estado.
No Ceará, os pedidos de água acontecem durante o período chuvoso, pois as transferências de água são feitas pelos leitos dos rios, que neste período se encontram com água e facilitam o trânsito do recurso hídrico, além de sofrer menos perdas através da evaporação. Devido a esse fato, esclarecemos que neste momento atual não existe liberação de água para o Ceará, pois a mesma não foi solicitada a União. As demandas hídricas do Estado estão sendo atendidas sem a necessidade de transferência de água do PISF. A última transferência de água feita para o Estado do Ceará ocorreu em novembro de 2022.
Fica esclarecido, também, que a Barragem Jati se encontra com água. Em nenhum momento o reservatório ficou seco ou com baixo aporte.
Em relação a voltar do bombeamento de água do PISF para o Ceará, fica esclarecido que o Ministério do Desenvolvimento Regional realiza manutenção em algumas bombas do projeto. A Secretaria dos Recursos Hídricos do Ceará aguarda a finalização desses reparos para solicitar um novo bombeamento de água".
Sobre o mais do que se anda falando por aí, prefiro citar Umberto Eco:
"As redes sociais deram voz a uma legião de imbecis."
Façamos o inverso. Leiamos um noticiário com qualidade, feito por jornalista de verdade.