A saudade do São João do Cariri

Muitas festas, tantos contextos em diferentes cidades marcaram nossos dias no junho que já se foi

Legenda: E São João bom mesmo é em português ao som de forró que permita dançar abraçado
Foto: Thiago Américo/Prefeitura do Crato

Parece inacreditável, mas o Cariri, localizado no miolo do Sertão cearense, andava fraco de São João. Soa como uma contradição em termos. E é! Em outros anos, inclusive pré-pandemia, nossas festas paravam em Santo Antônio de Barbalha - aquele arrebatamento. Pulávamos São João e lembrávamos São Pedro com uma subida à serra de Caririaçu.

Era o junho que lembro. O resto virava contagem regressiva para a Expocrato. 2023 foi diferente, e já deixa saudades. O Juaforró voltou com organização, público e destaque, inclusive nacional com a transmissão para o São João do Nordeste. 

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E o Crato teve São João duplo, apesar de menores que o de Juazeiro do Norte. Foi realizado o São João do Mirandão, que virou uma tradição do bairro, bem organizado, com segurança, porém ainda sem fogueira e sem quadrilha.

E, antes, para celebrar o aniversário do município, foi realizada a FestCrato, no parque Pedro Felício Cavalcanti, uma prévia da Expocrato, mas daquela das antigas, com pipoca, algodão doce, quadrilhas juninas e um forró pé de serra de deixar Seu Luiz Gonzaga orgulhoso.

O único porém foi o nome. FestCrato lembrou-me Oktoberfest. Nada contra a Alemanha, que até hoje mantém laços sociais com o Crato, de onde veio a ideia aqui concretizada do Seminário da Sagrada Família (hoje Centro Cultural do Cariri Sérvulo Esmeraldo), berço do saudoso Padre Frederico Nierrhoff. 

Mas, quem sabe, em 2024 seja São João do Crato mesmo, como as pessoas já estavam chamando. Estrangeirismos são inevitáveis nos idiomas sob a globalização. Mas é que São João combina mais com português brasileiro ao sotaque sertanejo, assim como só assenta mesmo com forró, se possível o pé de serra.

Para encerrar esta prosa, parafraseio dois ícones da cultura nordestina. De passagem por Barbalha, Elba Ramalho lembrou que São João ao som da música sertaneja é tão estranho quanto a festa de Barretos ao som do forró. Concordamos, não é?

E, parafraseando outro paraibano, Ariano Suassuna e o seu radicalismo provocativo, se Chico Sciense fosse massa mesmo, ele se chamaria Chico Ciência.

Brincadeira. Sciense foi massa. Deixou legado. Suassuna deixou obra imortal. E São João bom mesmo é em português ao som de forró que permita dançar abraçado.

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