Dona Santa mora em Juazeiro do Norte. É idosa. Não lembra a idade que tem. Já Dona Zulene é moradora do Crato. E está com 74 anos. As duas senhoras rezam nas pessoas há muito tempo. Consideram o benzimento um dom e fazem questão de manter características tradicionais, uma delas é trabalhar de graça.
Aliás, é costume dizer que rezador de verdade pode até aceitar doação, mas não pede dinheiro, feito o que faz esse falso benzedor que anda pela zona rural entre o Cariri e o Centro-Sul, dizendo-se inclusive parente de padres famosos. Ao contrário dele, pessoas como Dona Santa e Dona Zulene são exemplos de sabedoria e honestidade nas comunidades em que vivem.
Dona Santa diz que começou a benzer depois que o filho pequeno precisou de uma rezadeira. Ela levou a criança até uma, mas a mulher disse que, por ser final de tarde, não era hora para rezar em ninguém. Mesmo assim, insistindo, ela conseguiu com que a benzedeira rezasse. Ao voltar pra casa, pediu o dom a Deus. E afirma ter recebido.
Dona Zulene reza desde os 7 anos. É filha de uma benzedeira, mas não foi com a mãe que aprendeu. Ela é autoditada em coisas de espírito, como diria Clarice Lispector.
Afirma que conseguiu o dom numa mata pertinho de casa. Foi lá que encontrou uma entidade a quem chama de Caboclinha, que lhe ensinou a prática do benzimento. A mãe descobriu quando fez uma reza numa pessoa que não foi curada. Pediu para Zulene rezar, e a mulher ficou boa. São mais de 60 anos como rezadeira.
Os rituais de benzimento
Dona Santa usa um ramo de planta para tocar levemente no corpo de quem recebe a reza numa coreografia que sinaliza uma cruz. Enquanto isso, invoca todos os santos e a Santíssima Trindade. Depois de benzer, expõe o diagnóstico já resolvido pela reza: “Era só mau olhado mesmo.”
Em alguns casos, quando a pessoa está muito "carregada", é preciso benzer mais de um dia.
Dona Zulene tem um ritual mais complexo. Põe um copo com água sobre a mesa dos santos e usa perfume. Diz que é para neutralizar os males. Pede para que a pessoa fique sentada, enquanto ela fica em pé e põe as mãos sobre a cabeça, sem tocar. As frases ditas de forma rápida e em voz baixa, como sussurros, dificilmente são compreendidas. Ela também usa um raminho de pião roxo e outro de alfavaca, durante a reza.