Bacamarteiros atiravam para o alto, assustando os espectadores. Começava a apoteose dos brincantes que só o Cariri é capaz de oferecer. Atrás deles vinham reisados, lapinhas, maneiros-paus, penitentes, incelências. Eram alguns dos grupos de tradição que desfilaram, passava das 11h deste domingo, no centro histórico de Barbalha.
Rende uma tese de doutorado cada um desses folguedos, com suas histórias e culturas próprias, a maioria transferida pela oralidade entre comunidades que vivem na zona rural. Aliás, há acessórios e personagens que já seriam suficientemente complexos para explicar.
Veja o caso do Mateu, uma espécie de palhaço do reisado. A cafuringa, o chapéu em forma de cone, desfilava sobre as cabeças de dezenas de frequentadores da festa. Ela em si já é uma viagem no tempo.
"É uma tradição trazida da África. Nas senzalas, faziam comemorações e uma das pessoas vestia-se em cores estampadas e usava a cafuringa", explica Cícero de Rex, arte-educador que mora em Barbalha.
Além do acessório, chama atenção no Mateu a pintura preta do rosto. Perguntado se não seria um caso de black face, algo que o cinema já usou e hoje é visto como racista, Rex explica que não haveria essa conotação, já que a construção do personagem exige a maquiagem, não se trata de imitação da cor preta da pele de um ser humano.
É a festa que inaugura período junino
Por causa da data, celebrada no dia 13, o padroeiro de Barbalha acaba sendo o santo junino primeiramente celebrado. E, assim, o Cariri acaba abrindo os festejos para São João e São Pedro, homenageados nos últimos 10 dias do mês.
Entre as pessoas que estavam em Barbalha, encontrei turistas de outros estados. Deane Viana, que é técnico em segurança no trabalho, nasceu no Pará e hoje mora em Teresina, capital piauiense. Ele diz que já está bem acostumado com o período junino.
"Muito bonita a decoração nas ruas. As pessoas decorando as casas. Quando chegam as festas juninas, chega também a culinária. Gosto muito", disse.
Já Benjamim Veríssimo, de 9 anos, é do Cariri mesmo. O garoto foi quem convidou os avós, Leonor e Germano, que moram em Aurora, também no Cariri, para visitar Barbalha no domingo. O garoto ainda brincou: disse que só não podiam pegar no pau de Santo Antônio já que eram casados.
"Vai dar problema para nós", disse o menino brincalhão.
Há uma superstição de que quem toca no tronco da árvore usado como haste da bandeira será favorecido pelo santo casamenteiro. Os avós de Benjamim riram da brincadeira. Acham que o menino já exibe talento precoce para ser ator.