É meio difícil fugir das histórias de multiverso nos últimos tempos. Em filmes de heróis ou não, esse "conceito" aparece vez ou outra para nos recontar: mexer em linhas do tempo não é muito legal, galera! Em 'The Flash', que estreia nesta quinta (15) com a missão de encerrar uma fase e iniciar uma nova para a DC Comics, é ele que mais uma vez permeia o roteiro, mas soa diferente, descompromissado e, sem dúvidas, bastante divertido.
O balanço é bastante positivo e surpreendente. Como uma boa fãzoca das produções da Marvel, veja qual não foi o meu espanto ao me perceber sorrindo com os alívios cômicos de um filme da DC, logo deles que insistiam em se manter tão sérios na sua própria forma de entretenimento.
A maioria dos detalhes vistos em 'The Flash' funciona muito bem, melhor até do que nos últimos filmes lançados na nova fase da Marvel, diga-se de passagem. Mas o ponto principal não é este, ressalto. A mim, parece que a DC deve ter - finalmente - entendido o mais importante: talvez não se levar tão ferrenhamente a sério tenha sido o que alavancou os lançamentos da concorrente em primeiro lugar.
E vamos lá, entender a premissa do roteiro de Cristina Hodson é importante nesse sentido. Nele, Barry Allen, já em posse dos poderes de 'The Flash', segue uma vida disposta a "apagar os incêndios' da Liga da Justiça, enquanto falha em balancear trabalho e vida pessoal nesse ínterim. Assim, meio que do nada mesmo, descobre que a própria velocidade talvez seja capaz de ajudá-lo com o próprio dilema pessoal do passado, voltando no tempo.
O pulo do gato é que o longa não está tão interessado em explicar assim o conceito do multiverso, sabe? Voltar no passado, alterar eventos e esperar que tudo fique bem é um erro, blá, blá, blá. Já vimos tudo isso em outros filmes por aí, já estamos carecas de saber. 'The Flash' passa rapidamente por essa explicação e segue, de forma bem-humorada, para o que realmente deseja fazer.
Aí sim o filme traz a cenas personagens cruciais como o Batman, aqui interpretado pela versão de Michael Keaton, e a Supergirl de Sasha Calle. Andy Muschietti, diretor do longa, aborda os personagens muito bem, reforçando duas figuras importantes dos quadrinhos e mostrando, por meio dos jogos de câmera, a quem temer e em quem confiar.
No meio disso, o conceito de multiverso se expande, sem a necessidade óbvia de uma explicação. O vilão, inclusive, parece ser mesmo o tempo. Barry não conseguirá mudar seu trauma, trará sua mãe de volta e precisa lidar com isso, já que não deseja destruir tudo que já existiu para suprir as próprias vontades.
Quem não acompanhou as polêmicas que envolveram Ezra Miller nos últimos anos deve ter passado longe dos tablóides, certamente. Casos de agressão, abusos e demonstrações públicas de descontrole são associadas de pronto quando o nome dele vem à mente.
No entanto, não exaltar a maestria do que ele promove em 'The Flash' chega a ser desonesto. Como ator, Miller faz o ideal, recebe o roteiro em mãos e entrega a versão de um herói divertido, confuso, mergulhado em traumas internos, acelerado, preocupado consigo, com a família e com o universo. Tudo em um só.
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Quando precisa se dividir em dois e interpretar versões diferentes de Barry nessa linha do tempo difusa, ele até nos faz acreditar que, de fato, existem dois Flashs. É que ele desenvolve trejeitos tão únicos para as duas versões que chega a ser difícil de acreditar que é apenas um e se veste, literalmente, da premissa do longa.
Ezra Miller parece completamente consciente do que um super-herói representa, de como deve se portar e até mesmo do timing para as piadas bobas quase onipresentes em filmes desse gênero. Na real, não há muito o que diminuir na performance do artista, apesar de tudo já visto sobre quem ele pode ser.
Se há um ponto negativo muito aparente, ele é o CGI do filme. Todos os efeitos especiais de 'The Flash' soam como deploráveis diante de um filme com orçamento tão esticado como este. Em que momento alguém achou legal um plano fechado em um bebê que claramente não parece real?
Todas as cenas em que efeitos claramente precisam ser usados poderiam ser motivo de risadas da plateia. A questão é que o longa se sustenta de outras formas e não parece se conectar tanto assim com este problema. Ponto positivo, talvez, mas não deixa de ser vergonhoso perceber tudo isso.
Ainda assim, nada que atrapalhe seu divertimento, beleza? 'The Flash' é sim um bom filme, vai te fazer ficar elétrico na sala de cinema e pode ser, finalmente, o que a DC precisava para alavancar de vez as produções que vem por aí. Vai dar uma chance? Vale a pena conferir.