'Sintonia' chega ao "último corre" na Netflix com diversos acertos e forte carga dramática; veja crítica e entrevista

Série lançou seis episódios da 5ª temporada nesta quarta-feira (5)

Escrito por
Mylena Gadelha mylena.gadelha@svm.com.br
Legenda: Sintonia chega ao último ano cheia de méritos e consegue mantê-los em alto nível
Foto: divulgação/Netflix

Desde o lançamento, há cerca de sete anos, 'Sintonia' manteve como premissa um roteiro capaz de representar a realidade da "quebrada" sem tantos filtros, com tudo que há de positivo e negativo. Com temática social, que aborda desde a criminalidade e até o poder da religião nas comunidades, a série se propôs a tratar do sonho de muitos jovens, que enxergam no funk a energia de vida. Agora, no último ano, lançado pela Netflix nesta quarta-feira (5), a produção se encerra trazendo forte carga dramática não só somente pelo fim, mas pelo fato dessa jornada não fugir em nada do que se propôs.

Nando (Cristian Malheiros), Doni (MC Jottapê) e Ritinha (Bruna Mascarenhas) continuam como o ponto alto da série. O primeiro entre eles, talvez, chega a ser o mais interessante de acompanharmos ao longo das cinco temporadas. A amizade deles, inclusive, também continua chave da produção, ganhando o espectador pelo carisma da relação e, sem dúvidas, pela atuação cheia de entrega e qualidade dos atores. Acertos acumulados que, no fim, resultam em uma grande entrega.

Na 5ª e última temporada, 'Sintonia' continua os enredos um tempo depois de onde eles foram finalizados na quarta. Nando continua preso e resolve, mesmo na cadeia, apostar em algo extremamente arriscado, que deve mexer com o jogo entre os demais. Enquanto isso, Rita continua no sonho de advogar, cada vez mais afastada da igreja, e Doni precisa decidir sobre a própria carreira e os negócios da gravadora. 

É nesse caminho, inclusive, que a amizade deles cria ainda mais força na narrativa. O elo entre os personagens encerra essa aposta tão grande feita na produção da Netflix, e é visível que funciona. 'Sintonia' consegue, em meio a temas tão fortes, criar a empatia necessária para segurar o espectador em meio a tantos acontecimentos diversos, justamente por colocá-los na situação em que é quase impossível não criar empatia com os protagonistas. 

Muita música, mas muito choro também

Não à toa, a série se firmou como uma das produções brasileiras mais importantes no catálogo do streaming, por exemplo. No último sábado (1), milhares de fãs se reuniram em São Paulo para celebrar o último ano, enquanto os atores, emocionados, fizeram questão de se despedir em grande estilo. "Encerrar é sempre uma dor no coração, né? Mas sabendo que fizemos um trabalho bonito, com nossos corações, é um sentimento de gratidão. Acho que é um encerramento com chave de ouro", contou Cristian Malheiros em entrevista à coluna durante o evento. 

Gravações da série 'Sintonia', da Netflix
Legenda: O Nando vivido pelo ator Cristian Malheiros é um dos personagens mais interessantes de 'Sintonia'
Foto: Helena Yoshioka/Netflix

É dele o maior destaque da temporada, diga-se de passagem. Nando representa, sem aquele clássico maniqueísta, o jovem sem oportunidades que enxergou no crime o melhor caminho para ascender. Diferente dos amigos, o personagem não teve como sequer sonhar com música ou estudo, enxergando como único caminho a violência, mesmo quando ele não a deseja mais, quase como algo irremediável. 

Cristian brilha nesse caminho. Total mérito dele que o espectador da série crie uma conexão verdadeira com a história de Nando, questione ferrenhamente as atitudes dele, mas acabe, uma hora ou outra, torcendo para que o fim do caminho desse jovem seja diferente. Não é possível passar até o fim dos episódios sem muito choro, acho importante citar, mas vale a pena perceber a evolução da história e, acima de tudo, do crescimento de Malheiros no âmbito artístico. 

Protagonistas brilham

Ainda que a série tenha três protagonistas, é quase impossível não centralizar o enredo no decorrer dos acontecimentos da vida de Nando. Entendo como algo natural e acredito que a narrativa não perde em nada no que poderia entregar. A ideia parece ser balancear o jogo entre os três, mas é normal que nem tudo seja assim.

Apesar disso, Bruna Mascarenhas e MC Jottapê não decepcionam de forma alguma em termos de qualidade. Com eles, podemos sonhar em um futuro melhor a esses personagens e sofremos, com muitos soluços entrecortados, quando o sucesso deles não é alcançado da forma que imaginamos. Nessa temporada, os dois estão muito bem, confortáveis, levando o público junto nessa despedida que também parece ter sido dolorosa para eles.

Série Sintonia
Legenda: Bruna Mascarenhas, como Ritinha, e MC Jottapê, como Doni, também brilham e emocionam na nova temporada
Foto: Helena Yoshioka/Netflix

"É uma forma bonita de encerrar o ciclo", comentou Jottapê no evento do último sábado. Por lá, ele anunciou o fim da carreira como MC na vida real, mas o trabalho como Doni, claro, continua sendo motivo de orgulho. "Estamos representando vidas ali, né? Já que tem essa coisa muito real. Mas eu acredito que o rumo da série foi exatamente o que precisava ser", opinou.

No fim, 'Sintonia' se firma como uma ótima produção para embarcar nas diversas narrativas presentes na periferia. Sem lentes "borradas", ela se propõe a ser exatamente o que é, sem recortes já pré-estabelecidos. Um sucesso e um caminho para produções do gênero, sem dúvidas.

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