Por que queremos ser adultos quando somos crianças?

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Aqui em casa pra tudo tem bolo. Aniversário, batizado, ano de casamento, chegada de parentes e ontem teve também. Bolo colorido de dia das crianças. Bolo, pra mim, remete a festinha, comemoração. 

Quem canta um parabéns sem sorrir ou sopra uma vela sem pensar em algo bom? Que pena a gente não ter maturidade, quando é criança, pra não querer virar adulto tão rápido.

Quando crianças, acreditamos que quanto mais crescemos mais liberdade teremos ou mais independentes seremos. Mal sabem que, muitas vezes, vamos ficando cada vez mais presos a conceitos, à estética, a objetos, a desejos.

Ser criança é tão bom que nenhuma nasce racista, preconceituosa ou qualquer um desses. São como uma folha de papel em branco que é escrita à medida que vamos crescendo e vão nos ensinando.

Ser criança é ser pura, simples. A criança não pede marca, não pede bolsa, não pede sapato. Ela ri pelo que ela é, pelo que ela vê, pelo que tem – pouco ou muito - pelo passarinho que nunca viu, o colorido, a garrafa pet. Toda criança é linda. Não necessariamente pela fofura física, mas pela inocência, sorriso, cada pequena descoberta parece tão grande e tão importante.

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Elas parecem ser totalmente livres de julgamento. E são. Não julgam, apenas brincam – com tudo, por tudo. Acho que é isso que forma a parte principal da beleza de uma criança. E como é difícil ter essas características (ou mantê-las) depois da nossa folha em branco ter sido rascunho, ter sido rasurada ou até reescrita.Difícil mesmo.

Às vezes nem fomos nós que rasuramos. Fato que em alguns momentos, quando aquela inocência vai morrendo (ou matam por nós), é difícil que a gente consiga persistir com um olhar de criança sobre o mundo depois de todas as nossas folhas aparentemente escritas de caneta – sem parecer ter como apagar. 

Acho que é isso que querem dizer quando falam sobre manter a criança viva em nós: essa tentativa constante complicada, mas importante de se manter feliz pelas pequenas coisas, o sorriso fácil, o olhar curioso e atento às coisas simples dessa vida.

É o restinho desse olhar que nunca foi embora, aquele espaço em branco que ficou da nossa folha que nos faz ver a vida com mais leveza. Essa leveza que faz valer a pena ter passado por tanto e, afinal, ter crescido.

É, talvez, pra ser feliz depois de adulto, não seja opcional, mas sim necessário ter um pouco da criança que fomos dentro de nós e, claro, sempre ter bolo. 

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.