A cada Dia das Mães, podemos constatar declarações amorosas de filhos que, não raro, se referem às suas mães como “a melhor mãe do mundo”. Existem diversas definições sobre o que significa ser uma boa mãe, que podem variar de acordo com a cultura e as crenças pessoais de cada indivíduo. Não pretendo refletir sobre essas múltiplas definições, mas creio que valha a pena colocar luz sobre o alto preço a se pagar ao ser uma boa mãe. Uma mãe que ensina seu filho a pensar por si mesmo, a ter senso crítico e autonomia intelectual, contribuindo para sua independência no pensar, certamente não será mais idealizada. Seu filho não a colocará em um pedestal, tão caro para algumas mães, mas a enxergará como um ser humano, ciente de todas as suas falhas. [render name="Leia mais" contentId="1.3368407"] Quando penso em uma boa mãe, sei que ela não faz de seu filho um escravo de uma dívida de gratidão pelos tempos nos quais ele era uma criança vulnerável e dependeu do sacrifício materno para progredir. Essa mãe sabe que, enquanto adulta, escolheu colocar um filho no mundo e jamais seria justo acorrentá-lo. Entretanto, por causa disso, me questiono se ela não corre o risco de não ter o reconhecimento merecido. Independentemente da definição, creio ser consenso que uma boa mãe prepara seu filho para “ganhar o mundo”, ou seja, para ter uma profissão, um trabalho digno e, muitas vezes, no ímpeto de “vencer na vida”, esse filho voa para longe e distante permanece. As saudades de uma boa mãe sempre são as mais dolorosas. Entretanto, por ser uma boa mãe, ela respeita seu filho, suas escolhas e gostos. Nem sempre será fácil constatar que aquele ser humano, criado com tamanho carinho, diverge tanto dela mesma. É preciso se despojar de todo narcisismo para admirar o diferente de si, para entender que um filho é alguém que pertence ao futuro, que absorverá valores diversos, que saberá compreender melhor o funcionamento do mundo. [citacao tipo="texto" ]Ser uma boa mãe é abrir mão da vaidade de ser idolatrada; é renunciar à ilusão de que um filho deve ser cópia; é apreciar a capacidade que um filho desenvolveu de discordar dela.[/citacao] Este filho tão querido, talvez, tenha sido fruto do amor de um casal. Então, uma boa mãe entende que o filho é fruto de sua família, mas não sua propriedade, e compreende que ele poderá formar sua própria família nuclear, sendo natural que ele, passe a priorizar sua esposa e filhos. Somente uma boa mãe é capaz de ficar feliz pela felicidade do filho, ainda que isso aponte para as frustrações de suas próprias expectativas. Gosto de pensar que uma boa mãe é como a metáfora do poema “Filhos”, do escritor Khalil Gibran, que está na clássica obra literária “O Profeta”. Nele, os pais são o arco e os filhos são a flecha. A flecha voa em direção ao alvo, mas o arco permanece imóvel. O arco que retém a flecha, que a conserva em si, nunca permitirá que a flecha seja lançada e que atinja um alvo - que não está no presente, mas no futuro. O arco, como a boa mãe, deveria ter prazer em lançar essa flecha, pois é essa sua função primordial: permitir que os filhos voem, sejam lançados ao mundo. Mães que formam seres humanos pensantes, independentes e prontos para assumir a responsabilidade de cuidar de um lar, costumam pagar um alto preço por essa maternidade. No entanto, é este maternar que costuma formar seres humanos éticos e íntegros, necessários em um mundo que, às vezes, parece estar às avessas. Por ter consciência disso, desejo às boas mães um feliz dia e agradeço pela coragem. É preciso bastante. *Este texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora