A etapa do Circuito Brasileiro de vôlei de praia, realizada em Saquarema, na última semana, seria o primeiro encontro dos principais atletas nacionais da modalidade. Seria. Esvaziada, a maioria dos jogadores de elite não se inscreveu. Só duas duplas das principais furaram o boicote. O que eles reivindicam é diálogo em relação às novidades impostas pela Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) para a competição.
Dos atletas da considerada elite, a cearense Rebecca e a sul mato grossense Talita estão entre as que não aderirem ao “boicote”. A dupla, inclusive, ficou com o título.
Questionada sobre a conquista e as novidades do Circuito, a atleta do Estado resumiu: “Ganhar é sempre muito bom. A gente ainda tem pouco tempo de parceria, mas estamos construindo uma estrada muito legal. Eu sempre admirei muito a Talita, mesmo sendo adversária, e agora estamos nos redescobrindo como parceiras. Cada uma com sua experiências, seus pontos fortes e fracos, mas estamos bem unidas e focadas nos nossos objetivos a curto e longo prazo.”
Tradicional no vôlei de praia, o Ceará tem outras representantes aptas a disputar o Circuito. Entre as da categoria principal, Taiana Lima, dupla da também cearense, Hegeile, está no hall das que não concordam com essas novidades e por isso, não disputou a primeira etapa.
A atleta destaca a importância de uma conversa com a Confederação. "Diante dessa situação, acredito que a melhor forma de tudo entrar nos eixos é através do diálogo. Que é o que nós, através da Comissão de Atletas estamos buscando com a CBV. Espero que isso ocorra o mais breve possível."
Diálogo que não vem sendo viabilizado e criando ainda mais um clima de animosidade. No início da semana, após a primeira etapa do Circuito, um grupo de cinco atletas formado por Ágatha, Bárbara Seixas, Carol Solberg, Maria Elisa e Oscar foi “barrado” na sede da CBV. Não houve diálogo e a Confederação justificou que os jogadores foram acompanhados de integrantes da Comissão de Atletas. O impasse continua.
Calendário do circuito brasileiro de vôlei de praia - top / aberto
2ª Etapa - Aberto - Maringá / PR de 24 a 27 de março.
3ª Etapa - Top 08 e Aberto -Itapema / SC de 20 a 24 de abril.
4ª Etapa - Top 08 e Aberto - Brasília / DF de 04 a 08 de maio.
5ª Etapa - Top 08 e Aberto - cidade a definir / ES de 18 a 22 de maio.
6ª Etapa - Aberto - local a definir - de 01 a 05 de junho.
7ª Etapa - Aberto - local a definir - de 22 a 26 de junho.
8ª Etapa - Aberto - local a definir - de 07 a 10 de julho.
9ª Etapa - Top 08 e Aberto - local a definir - de 20 a 24 de julho.
10ª Etapa - Aberto - local a definir - de 04 a 07 de agosto.
11ª Etapa - Top 08 e Aberto - local a definir - de 24 a 28 de agosto.
12ª Etapa - Top 08 e Aberto - local a definir - de 21 a 25 de setembro.
13ª Etapa - Top 08 e Aberto - local a definir - de 12 a 16 de outubro.
Com um ciclo olímpico mais curto, o foco do momento deveria ser a preparação dos atletas para chegar em alto nível nos Jogos de Paris 2024 e retomar o patamar que o Brasil ocupou em outras edições. Mas o que se vê é a falta do básico: diálogo. Enquanto isso, os atletas continuam a rotina de treinos, mas como já diria a máxima: “ treino é treino e jogo é jogo”.
Para Rebecca, que disputou uma etapa nacional, bem diferente da convencional, onde dificuldade e equilíbrio são ingredientes praticamente certos, o planejamento do ciclo é passo a passo: “Nosso planejamento é disputar o Brasileiro, o Circuito Mundial e o Campeonato Mundial. Com certeza com o ciclo mais curto, cada torneio ganha ainda mais importância. O que estamos fazendo agora, vai contar pro ano que vem e pra corrida olímpica, que é o nosso maior objetivo a longo prazo.”
Já Taiana, que ainda não participou competições oficiais em 2022, e também está de olho em uma realização do ciclo olímpico, explica que vem buscando manter a rotina de treinos com o apoio de uma equipe multidisciplinar.
“É realmente um ciclo atípico, então é importante que a gente tenha um foco muito grande. [...] Eu venho mantendo a minha rotina de treino como planejado. A nossa equipe está acompanhando tudo isso e planeja de acordo com o calendário que temos.”
Reverter resultados adversos. Essa deveria ser a principal missão para o vôlei de praia do Brasil, neste ciclo, após o pior resultado da modalidade em Olimpíadas, em Tóquio 2020. Pela primeira vez desde o início da modalidade nos Jogos (1996), o País não chegou ao pódio. Mas o que vem acontecendo é um grande conflito entre a maioria dos principais atletas e a CBV. Impactos a curto e longo prazo, a conta vai chegar, os reflexos serão os resultados nas próximas competições internacionais.
*A CBV foi procurada para esclarecer em relação a esse impasse com os atletas, mas não respondeu até o fechamento desta matéria