A descoberta de novos talentos no cenário musical brasileiro surge no meu coração feito alívio, já que nosso cancioneiro popular anda tão maltratado e precisa desse respiro. É com esse entusiasmo que anuncio a gravação do DVD de Vannick Belchior, do espetáculo “Das coisas que aprendi nos discos”, no próximo dia 22 de maio, no templo sagrado que é o Cineteatro São Luiz.
O show tem como repertório as canções do pai da cantora, nosso eterno Belchior, falecido em 2017. O nosso “rapaz latino americano” é uma referência artista no País, mas, para a jovem, interpretar as composições do pai também é resgatar um lado importante de suas origens.
É impossível você olhar e ouvir Vannick sem encontrar aquela identidade do Bel, seja nos agudos da voz, ou até mesmo no gesticular das palavras. Ainda assim, a moça carrega um sorriso sincero estilo Elis Regina, dando um ar carismático de quem nasceu para os palcos.
Além das canções mais conhecidas do pai, como “Paralelas”, “Como nossos pais” e “A palo seco”, o show promete mostrar outras canções que não são tão conhecidas de Belchior, como “Retórica Sentimental” e “Carisma”. Tudo isso sob a direção musical de Lu D’Sousa, também responsável pelos arranjos que darão uma nova roupagem para as canções.
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Como já escrevi em outra edição desta coluna, Vannick se descobriu cantora na maturidade. Hoje com 25 anos, viu sua carreira profissional começar de forma muito repentina e pelas mãos de um dos maiores instrumentistas deste País, o grande maestro Tarcísio Sardinha, que afirmou saber, a partir de então, com quem iria tocar para matar a saudade de Belchior. A ligação com o músico foi pedra fundamental para adentrar naquela nova vida.
Nesse pouco mais de um ano de trajetória, Vannick já fez vários shows, além da gravação do single com um medley de “Divina Comédia Humana” e “Medo de Avião” e o espetáculo “Das coisas que aprendi nos discos”, o que só consolida a decolagem de uma trajetória profissional que tem tudo para ser brilhante.
É importante frisar que, mesmo tendo voz semelhante à do pai, seus próximos passos já podem ser planejados independentemente da relação, pois seu talento já é suficiente. Aliás, Vannick possui uma cearensidade quando canta, uma interpretação muito nossa, o que causa também uma empatia com o público do Estado.
O que pouca gente sabe é que Vannick também já pensa em ser compositora e já tem alguns trabalhos. Em conversa no início do ano, ela contou que ainda aguarda segurança para apresentar para seus admiradores esse seu outro lado, o que mostra mais uma vez essa responsabilidade quanto ao chão que agora pisa.
Saber respeitar a arte é fundamental e é o que mais falta naqueles que agora estão querendo adentrar neste mundo. Ser artista não é só ter talento e tampouco um rostinho bonito. Tem que ter força e desejo de compreender que a cultura é uma forma de representação de almas, uma catarse plural que é representada em sons, rabiscos e expressões.
Vannick sabe o que faz e a música a tem feito se reencontrar com o passado, abrindo portas para um futuro muito bonito, pois, quando ela está sob as luzes, já se mostra sem medo de nada. Quem puder conferir a apresentação do próximo domingo (22), acredito que será uma boa escolha para quem deseja embarcar nas músicas de Belchior que resgatam de Beatles à Edgar Allan Poe, além de adentrar no íntimo do cearense e conhecendo o nosso lugar.