O Brasil também é Rock’n’roll!

O gênero musical chegou ao país na década de 1950, ganhou popularidade e se mesclou bem com os ritmos que aqui já existiam

Legenda: Rita Lee e "Os Mutantes" foram reesposáveis pela popularização do Rock no território brasileiro e são referências para várias gerações
Foto: Reprodução

Parece clichê falar da mestiçagem do Brasil em seus mais diversos aspectos. Por forma de colonização, extensão territorial, desenvolvimento da sociedade e mais diversos motivos histórico, o país foi recebendo novos povos, agregando culturas e fazendo jus à carta de Pero Vaz de Caminha, em 1500, quando afirmou para Rei de Portugal, Dom Manuel, que   “Nesta terra, em se plantando, tudo dá”.

Musicalmente falando, é impossível separar o Brasil do samba! O ritmo nos representa no exterior, mesmo em uma visão estereotipada, ainda assim é uma realidade de mercado quase inquestionável. Outros estilos surgiram, como a Bossa Nova que até hoje é grande sucesso no mundo, mas uma das possíveis explicações para tal é seu pé no samba, nas praias e outras belezas naturais.

Apesar de ser conhecido dessa forma, nem só de samba vive o povo brasileiro e, por essa pluralidade cultural, outros sons estão cravados nas nossas vidas e memórias. Enraizados nos corpos e mentes! Do batuque das senzalas aos pianos de orquestras, tudo faz parte da nossa construção cultural.

No próximo 13 de Julho se comemora o “Dia do Rock”, gênero que representa tudo isso que narrei: a agremiação de novidades e adoção desta para a nossa realidade. Assim como outros ritmos, o Rock’n’Roll, ainda que nascendo em territórios bem distantes, bebeu da cachaça e experimentou a tradicional feijoada. Sincopou e virou coisa nossa!

É dia de Rock, bebê!

"Eu só boto bebop no meu samba quando Tio Sam tocar um tamborim". O verso da música “Chiclete com Banana” (Gordurinha e Almira Castilho) que se imortalizou na voz do sensacional Jackson do Pandeiro, é uma espécie de profecia para o que estava por vir na música brasileira.

A letra de 1959 já fala da chamada batida “bebop”, originária do Jazz, se mesclando no samba tão característico brasileiro. A música e sua melodia também apresentam um (não tão) novo estilo de música que viria ser chamado de “Samba Rock”, sucesso paulista que percorre, ainda hoje, todo o país.

Essa talvez tenha sido a forma mais radical do sincretismo entre os dois estilos que dão origem ao ritmo, porém o Rock já pairava no Brasil bem antes desse casamento “meio louco” e de muitos bons frutos.

No início da década de 1950, por influência Americana, principalmente, já se ouvia bastante Rock no país. Vendo que o balanço era aceito pela juventude, muitos artistas começaram a gravar. 

Em uma versão pra lá de duvidosa, Agostinho dos Santos e, 1955 grava  “Até Logo, Jacaré“, versão de Júlio Nagib para “See You Later, Alligator“, composição do americano Bobby Charles. A música não era bem um Rock, mas caminhava nesta intenção. Nora Ney ainda gravou no mesmo ano “Rock Around the Clock”, esse era Rock, mas nada em português.

Só em 1957, quando Cauby Peixoto, recém chegado dos Estados Unidos e no auge de sua popularidade, grava o “Rock and Roll em Copacabana", que esse gênero viria a ser inaugurado na nossa língua. Apesar de ter largado o estilo, pode-se dizer que o cantor foi o “pai do Rock Nacional” (por nascimento e não por criação).

Cauby ainda cantou o música “Enrolando Rock”, para o filme “Minha Sogra é da Polícia”, nele o cantor se apresenta com duas figuras que iriam assimilar bem o estilo posteriormente: Roberto e Erasmo Carlos

Estúpido Cupido
Legenda: Capa do disco Estúpido Cupido (1959) da cantora Celly Campello
Foto: Reprodução

Mas antes de falar do Rei e do Tremendão, quando o assunto é Rock'n'roll, não mencionar os irmãos Tony e Celly Campello chega a ser uma blasfêmia. Eles emplacaram gênero em português com o Rockabilly e estouraram na década de 1960 com “Banho de Lua” e “Estúpido Cupido”.

Elis, Rita Lee e Roberto Carlos...

Com referências nacionais e também de fora, novas gerações cresceram os olhos e queriam ser “roqueiros” também. Até a grande Elis Regina entrou na ideia e em 1961 gravou pela Continental o disco “Viva a brotolândia”, álbum que a cantora não gostava e fazia questão de renegar na sua carreira.

Na fase da Jovem Guarda todos os integrantes beberam da fonte do Rock’n’Roll. Além dos já mencionados Roberto e Erasmo Carlos, Wanderley Cardoso, Ronnie Von, Jerry Adriani (que recebeu o sobrenome devido a influência do rock italiano), Ronnie Cord e vários outros.

Viva a Brotolândia
Legenda: Capa do Disco "Viva a Brotolândia" (1961) da cantora Elis Regina
Foto: Reprodução

Em gerações seguintes o rock’n’roll continuou e coroou artistas como a ex-integrante do grupo “Os Mutantes”, a magnífica Rita Lee, com seu espírito livre e questionador. Se ela era a rainha do gênero, Sérgio Murilo já usava a coroa de Rei desde a década de 1960.

Outros nomes de grande importância também seguem na história do Rock Nacional. Raul Seixas, Secos e Molhados, Jorge Ben, Tim Maia, Caetano Veloso, Gal Costa...Anos depois apareceriam Lobão, Legião Urbana, Engenheiros do Hawaii, Barão Vermelho, Cazuza e muitos mais artistas de peso. 


São tantos representantes do Rock Nacional que não caberiam em linhas por mais que eu as pudesse escrever. O que posso afirmar é que o gênero revive no país um senso crítico para os padrões e clama pelo novo desde muito cedo. Americanizado ou não, o Brasil soube ser rock’n’roll e o adaptar para sua realidade, sem abrir mão dos tamborins, sanfonas e pandeiros.

 


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