Gal Costa mostra as várias pontas de uma estrela para o público cearense

A cantora, considerada um dos mais importantes nomes da música popular brasileira, se apresentou em espetáculo emocionante e de repertório altamente qualificado

Legenda: O projeto “As várias pontas de uma estrela” começou em 2016 e segue em turnê pelo Brasil, agora com o alívio das taxas da Covid-19.
Foto: Divulgação/Instagram

“A vida é a arte do encontro”, já diria o poetinha Vinicius de Moraes. A frase é certeira e talvez seja a que possa introduzir a descrição de uma noite linda como a do último sábado (11). Após quase dois anos assistindo lives, voltar às platéias tem sido uma das maiores emoções que tenho vivenciado, ainda mais quando posso ter a graça de vibrar presencialmente no show de uma das mais importantes cantoras de todos os tempos deste país. 

Este artigo poderia receber somente uma palavra como título e seria “Gal”. Gal Costa, que nos brinda há cinco décadas de puro talento e devoção à música, voltou aos palcos de Fortaleza com um show para 2.000 pessoas no Centro de Eventos do Estado. A apresentação fez parte do festival Elos e comoveu fãs das mais diversas gerações que vibraram a cada verso interpretado pela baiana.

“As várias pontas de uma estrela” é um espetáculo singular e digno de todos os aplausos. O projeto começou em 2016 e segue em turnê pelo Brasil, agora com o alívio das taxas da Covid-19. Para uma grande voz é exigido grandes compositores e o enredo do show circula pela obra de ninguém menos que o nosso Milton Nascimento.

Em pouco mais de uma hora e meia de show, Gal mostrou aos seus admiradores alencarinos que continua sendo uma constelação da MPB e ainda tem muito a desvendar diante um existente Brasil que precisa ser redescoberto urgentemente.

Simplesmente “Gal”

A entrada quase silenciosa da artista no palco, mal previa no coração da plateia as emoções de uma noite memorável. Gal Costa iniciou sua apresentação e não demorou muito para que seus admiradores se rasgassem em aplausos e euforia.

O espetáculo vem depois de quase dois anos ferrenhos de uma pandemia aparentemente interminável, e a alegria do retorno é visível nos olhares de cada integrante daquela cena.

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Peço licença, caro leitor, por fugir do padrão de crítica ou resenha de um projeto musical e escrever como personagem também deste momento tão importante para a mentalização de um futuro melhor, mais digno, saudável e cheio de esperança. Nunca havia assistido a Gal ao vivo e confesso que foi impossível conter as lágrimas diante a presença de quem já “cantou” muito minha história.

A faca continua amolada e dá início aos delírios de uma eterna dançarina de melodias. A artista mostra que idade é algo mais ligado ao calendário do que à alma. Canta como uma menina com a voz límpida, sem medo de abusar dos agudos ou dos improvisos vocais que a transformam em um instrumento sofisticadíssimo.

“Minha voz, minha vida” é outra canção que integra o espetáculo e faz jus a todo e qualquer segundo ali vivenciado. O repertório é diverso e relembra grandes sucessos como Paula e Bebeto, Dom de Iludir e até bossas Estrada de Sol e Desafinado. Gal oferece ao público o que existe de melhor na nossa música. Aliás, ela consegue ser a própria representação do mais qualificado desta.

Agora, falando como fã, é possível não chorar quando é presenciado a cantora deixar ecoar seu agudo “Baby”? Tem como não cantar junto quando ela invoca a força da mulher em “Maria, Maria”? Ou não sofrer ao afirmar que “dessa vez doeu demais"? Não existem palavras para definir a estrela que baila por suas pontas suaves pelo que sabe fazer e muito bem.

O Brasil e seu eterno negócio

O público cearense não só vibrou ao reencontrar a cantora, como bateu palmas, cantou, sorriu e até chorou. “Lua de Mel”, por exemplo, recebeu coro afinado no refrão gostoso e sensual expondo a realidade de todos parecerem estar “vivendo no céu, como o Diabo gosta”. Outra que também ganhou acompanhamento foi a meiga "Açaí", trilha sonora de novelas e vidas.

A “História de Lily Braun”, composição emblemática de Chico Buarque e Edu Lobo, ganhou os aplausos efusivos da plateia. É importante frisar também que a música parece ganhar um significado na voz da Gal. Sua interpretação caminha de longe para ser a melhor daquela mulher apaixonada que domina o eu lírico da letra.

Com direito a bis, e talvez o ponto mais alto de todo o show, no sentido mais pessoal da frase, a baiana canta “Um dia de Domingo”, sucesso que faz questão de reverenciar e ainda embala corações apaixonados.

Agora, nada se compara a “gran finale”. “Eu queria não cantar essa música, mas o Brasil não me deixa tirar do repertório”, afirmou Gal Costa, que em um grande agudo bateu de frente com o país ordenando que ele mostrasse sua cara, afinal, queria entender quem paga para a gente ficar assim.

Quando o primeiro som de "Brasil", sucesso de Cazuza, rasgou o Centro de Eventos do Ceará, foi impossível não se levantar da cadeira e abraçar tantos conhecidos em um reencontro pelas plateias culturais das noites fortalezenses. Abraços não foram poupados, nem o canto que agora anuncia o desejo de um amanhã melhor.

Viva a Gal Costa, eterna na memória popular e no carinho de seus admiradores que já ultrapassam fronteiras. Assistir a artista, é reconhecer sua grandiosidade para a história que será contada e cantada muitas vezes.



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