Breves recomendações para um programa de desintoxicação digital

Legenda: Um deles parece óbvio, mas por vezes o relevamos: desativar as notificações do celular
Foto: Pexels

É sintomático. A cada dia surgem novos aplicativos que podem ser usados, vejam só, para bloquear outros aplicativos e forçar o usuário a permanecer off-line. Eles se vendem como ferramentas essenciais para melhorar a concentração, manter o foco, reduzir distrações.

Para tanto, prometem bloquear notificações, impedir temporariamente o acesso à babélia das redes sociais, cronometrar o enorme tempo perdido em cada um desses desgraçados vampiros de atenção e energia mental. Dia desses, li a entrevista de uma colega escritora, assumida informático-dependente, que diz depender dos bloqueadores de aplicativos para poder se dedicar, sem interrupções, ao trabalho de escrever.

Veja também

Não faz muito tempo, cogitei baixar um desses autoproclamados guardiões da produtividade. Até perceber o disparate do gesto. Isso seria atribuir a um aplicativo — mais um, como se não bastasse a miríade deles instalados no celular, no tablet, no notebook e no computador de mesa — a responsabilidade que, sob todos os aspectos, compete unicamente a mim: gerenciar e eleger as prioridades de meu tempo útil e, não menos importante, de meus instantes de lazer.

Não digo que tenha sido fácil — e sem sofrimento. Eventuais recaídas são intrínsecas ao bom combate contra os traiçoeiros prazeres de qualquer vício. Mas aprendi alguma regras básicas — umas às quais me impus de modo imediato, outras a que estou me exigindo de forma gradativa — para garantir o êxito de um rigoroso regime de desintoxicação digital.

Posso garantir que com alguns poucos procedimentos básicos, além de se ganhar tempo, ganha-se também em 1) sanidade mental, 2) redução da ansiedade e 3) queda dos índices pessoais de superexposição e palermice.

Um deles parece óbvio, mas por vezes o relevamos: desativar as notificações do celular. Isso mesmo. Silenciar todos os avisos, sininhos, zumbidos e luzinhas que nos transformam em ratinhos de laboratório, instigados a responder de modo irrefletido e instantâneo a cada novo estímulo oferecido.

A segunda regra é jamais levar o celular para o quarto, muito menos para a cama. Resistir à tentação de, posta a cabeça no travesseiro, dar uma última stalkeada noturna no Instagram — ou conferir as primeiras notícias do dia antes de escovar os dentes e fazer xixi.

E nada de ficar dando F5 no portal de notícias, origem mais comum de uma das piores moléstias contemporâneas: a síndrome de excesso informativo — mazela que, em vez de mantê-lo atualizado, só aumenta o estresse, a dispersão e o consumo de irrelevâncias.

Pelo mesmo motivo, é fundamental também estabelecer horário fixo — uma vez ao dia, no máximo duas — para ler e-mails, responder mensagens e começar uma briga no grupo de WhatsApp da família.

Em tempo: se alguém cometer a heresia de enviar-lhe uma mensagem de áudio pelo “zap-zap”, vingue-se: só responda uma semana depois.

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.



Assuntos Relacionados