Marília Mendonça marca minhas memórias de repórter pela acolhida sempre afetuosa

Cantora adotou o Ceará como casa e marcou fãs e imprensa

Legenda: Ela identificava os repórteres mais dedicados na cobertura musical pelo nome, memória afetiva que vivencio com poucos cantores

Foi difícil escrever sobre a partida de Gabriel Diniz em 2019. Mais uma vez, a cena se repete em 2021. Agora com Marília Mendonça. E mais um nome da música se despede dos fãs de forma repentina. A sertaneja, aos 26 anos, morreu em acidente aéreo acompanhado da equipe de produção. A partida da goiana deixa em pedaços o coração de fãs em todo país.

Carrego diversas memórias com Marília Mendonça. Nosso encontro mais recente aconteceu de forma virtual, no final do mês de outubro deste ano. Em um telão, montado em coletiva no Allianz Parque, em São Paulo, conversei com Marília Mendonça sobre o lançamento do "Festival das Patroas". Perguntei sobre a falta de Fortaleza na agenda do evento. Ela brincou pelo jeito do questionamento incisivo e comparou o meu jeito de indagar com a personalidade de Maraisa, irmã da cantora Maiara. 

No Ceará, estado com grande importância na carreira da goiana, a sertaneja abraçou o público de diversas formas. Um dos momentos mais memoráveis com o povo cearense foi durante a gravação do projeto "Todos Os Cantos".

Marília Mendonça parou o trânsito, movimentou caravanas do interior do Estado em poucas horas para um show surpresa no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, em Fortaleza.

Foi um dos momentos mais curiosos que escrevi sobre a passagem de um cantor pela capital cearense. O que era para ser a gravação de um clipe virou um show de cerca de uma hora. Pessoas em cimas de árvores e em semáforos buscavam brechas para ver a goiana. Após o término das gravações, fãs ainda tentavam chegar para ver a cantora. 

Quantos shows estive presente e vi Marília Mendonça atender filas e filas de fãs. Na capital cearense, presenciei momentos do tipo em eventos como Festeja e Festa das Patroas. Vaidosa, perguntava antes das entrevistas como estava o cabelo e os dentes, tendo com cuidado com o batom vermelho destacado. Ela identificava os repórteres mais dedicados na cobertura musical pelo nome, memória afetiva que vivencio com poucos cantores.

Outro momento marcante foi uma cobertura na cidade de Parnaíba (PI). De carona no micro-ônibus da dupla May e Karen, em companhia de um amigo jornalista, seguimos em diferentes terrenos para chegar ao show. Acompanhamos a apresentação de Marília Mendonça no auge de "Infiel". Público alvoraçado por fotos e um simples aperto de mão.

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Nosso último contato pessoal aconteceu em 2019, antes da pandemia do coronavírus. Em uma rápida conversa, ela vivenciava a  gestação em plena atividade nos palcos. Na festa, ela ganhou um camarim especial com ursinhos, bolo e docinhos nas cores azul e rosa, em menção a um "chá revelação".

Marília Mendonça encorajou centenas de meninas a ingressar no mundo da música. Depois que ela assumiu os vocais no palco, uma legião de garotas surgiu com covers no YouTube e Instagram. Ela quebrou o padrão da voz feminina aguda. De tom grave, ele tomou os palcos com grandes produções audiovisuais. 

O mercado musical terá de lidar com diferentes emoções em novembro de 2021: a alegria da retomada de eventos pelo país, com o avançar da vacinação, e a tristeza da partida de um dos maiores nomes do sertanejo. E não vai ter música de superação de Marília Mendonça que conforte tamanha partida.