Como nascem as grandes descobertas científicas: ou melhor, como nasce a ciência?
Nos livros e nos artigos científicos, lemos descobertas científicas que vão além do que nossa imaginação pode pensar, como a imensidão de um buraco negro supermassivo, por exemplo. Mas como essas descobertas acontecem na prática?
Quando pensamos em grandes descobertas científicas, imaginamos logo um cientista solitário trabalhando sozinho em seu laboratório, como Marie Curie, ou Albert Einstein e seus cálculos, ou Isaac Newton embaixo de uma macieira descobrindo a gravidade. No entanto, construir conhecimento científico vai bem além de apenas ideias geniais que vêm em momentos de epifania.
Será que Isaac Newton descobriu a gravidade apenas quando ele teve a epifania de uma ideia quando a maçã caiu da macieira? Muito provavelmente não, o conhecimento científico é construído a partir da dúvida, da indagação e de vários erros que levam até um acerto, ou melhor: que levam até a comprovação de uma hipótese.
A ciência é primordialmente produzida a partir da observação, do olhar crítico para o mundo à nossa volta, para as coisas que acontecem, para como eles acontecem, por que acontecem e desde quando acontecem ou se irão continuar acontecendo e dentre outras muitas perguntas.
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É buscar entender como esses fenômenos ocorrem, e aqui não falo apenas de fenômenos físicos, mas dos mais diversos fenômenos: biológicos, químicos, sociais, epidemiológicos, culturais, econômicos e por aí vai.
É observar, por exemplo, um problema de saúde pública e procurar mecanismos para compreender como ele ocorre, por que ocorre, quais populações acomete, se esse acometimento é na mesma intensidade entre diferentes grupos, ver como a dinâmica de transmissão de uma doença é influenciada pelos determinantes sociais da saúde (DSS).
Com essas ideias em mente, podemos entender melhor como o conhecimento científico é algo que não se constrói do dia para noite ou apenas de ideias geniais, mas que ele é uma construção diária e coletiva.
O método científico (que é o método que determina como o conhecimento de ordem científica é elaborado) parte desse princípio da indagação e da criticidade, então um pesquisador observa um dado fenômeno ocorrendo, busca entender como ele ocorre, por que ocorre, desde quando ocorre, em que população ou lugar ocorre e a partir daí elabora a sua hipótese de trabalho.
Ou seja, essa hipótese é uma possível resposta para entender por que esse dado fenômeno está ocorrendo. Vamos pensar assim: se eu enquanto pesquisador observo que uma determina doença está ocorrendo em uma população que não tem acesso a saneamento básico, eu posso pensar que uma das formas pela qual essa doença pode está se espalhando é pela falta de uma estrutura sanitária que possa proteger essa população de possíveis dejetos que estejam contaminados.
Porém, a ciência não se faz apenas com a elaboração de hipóteses, ela se constrói a partir da busca por respostas para comprovar ou refutar essa hipótese. E essas respostas não são construídas de qualquer forma, é necessário seguir os parâmetros metodológicos estabelecidos pelo método científico.
Essa busca pode ser realizada por meio de uma revisão da literatura científica, em que você busca tudo que se sabe na literatura (científica) sobre aquele dado fenômeno e passa a reunir evidências científicas para comprovar ou não a sua hipótese.
Ou você, enquanto pesquisador, pode realizar um experimento em laboratório se for algo molecular, por exemplo, ou elaborar questionários estruturados e semiestruturados para investigar e entrevistar uma população para entender um fenômeno social e assim por diante. E sempre lembrando: que quando uma pesquisa científica envolve seres humanos é necessário ter a autorização de um Comitê de Ética em Pesquisa (CEP).
E depois dessa fase de experimentação da sua hipótese de pesquisa ocorre a comprovação ou refutação da sua resposta (hipótese) para sua pergunta (questão problema). E o conhecimento científico vai se construindo, existem diferentes mecanismos metodológicos para que isso ocorra e eles têm se aprimorado cada vez mais com o avanço científico e tecnológico.
Por isso, é fundamental lembrar que a ciência não se constrói do nada ou apenas de ideias geniais, ela se constrói em várias tentativas, entre erros e acertos, e, sobretudo, na indagação e na busca por respostas. Também é sempre bom lembrar que a ciência é coletiva, não se faz apenas de uma mente, mas pela junção de várias mentes que trabalham em conjunto, com ética, respeito e seriedade na busca por causar impacto social positivo. Porque ciência é sobre isso: buscar causar impacto social positivo.
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.