A população do Ceará cresceu 4% nos últimos 10 anos, mas a geração de emprego acompanhou esse cenário a contento? Se, por um lado, especialistas acreditam que o avanço demográfico é positivo, para o mercado de trabalho, por outro, há quem veja os dados com preocupação sob a justificativa de que um número maior de pessoas exige cada vez mais projetos estruturantes e investimento em eixos como saúde, educação e segurança para atender à demanda desses cidadãos.
De acordo com dados do Censo de 2022, divulgado nesta semana pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o crescimento de 4% da população representa, em números absolutos, um incremento de 339,3 mil habitantes. Com isso, o Estado passa a ter 8.791.688 moradores.
Paralelamente a esses números, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho e Emprego revela que o mercado formal ganhou 263,6 mil postos de 2011 a 2022 (mesmo período que compreende a última pesquisa do Censo e a mais recente).
Há de se considerar que o número de habitantes considera não só a População Economicamente Ativa (PEA), mas também leva em conta crianças e idosos. Entretanto, a partir dos números e do que se observa na economia cearense ao longo da última década, a geração de emprego não tem acompanhado o crescimento populacional no Estado e também no País.
Descompasso de indicadores
A avaliação é da consultora de Mercado do Instituto de Desenvolvimento Socioeconômico (Idese) e diretora do Instituto Brasileiro dos Executivos de Finanças no Ceará (Ibef-CE), Marta Campêlo. “O crescimento populacional até desordenado é prejudicial pela falta de uma estrutura que possa acompanhar esse avanço”, enfatiza.
Ela detalha que essa falta de estrutura se traduz não apenas em iniciativas para fortalecer o emprego, mas na necessidade de reforço na educação básica, moradia, saúde, iniciativas de incentivo ao empreendedorismo e de projetos estruturantes.
“Quanto mais a população cresce, maior é o risco de concentração de renda. Com a elevação no número de habitantes, é preciso avançar também no atendimento das necessidades básicas dessa população que cresce”, diz Marta.
“Se os estados não estão preparados para suportar o crescimento populacional, vai faltar segurança, saúde, educação e vai faltar emprego. Caso isso não seja trabalhado de forma ordenada, a conjuntura será duramente afetada. As políticas públicas precisam acompanhar a velocidade do crescimento populacional. É uma situação que preocupa”, acrescenta a consultora do Idese.
Oferta maior de mão de obra
O secretário do Trabalho do Estado do Ceará, Vladyson Viana, por sua vez, considera o crescimento populacional positivo ao passo que esse elemento pressiona entes públicos e privados a criarem políticas e oferta de vagas, além de representar um aumento na oferta de mão de obra. “Esse aumento populacional já era esperado e é nessa perspectiva que as políticas de desenvolvimento acontecem”.
Uma das políticas nacionais que contribuem com o mercado de trabalho por representar uma ponte entre quem precisa de emprego e quem precisa contratar é o Sine. De acordo com Vladyson Viana, 67% das vagas que são ofertadas por meio da instituição no Estado são ocupadas.
Sobre o perfil do mercado de trabalho formal cearense, Vladyson Viana avalia que ele é composto por uma curva de crescimento sem grandes alterações. “Há uma dinâmica entre setores, com segmentos que crescem em determinados períodos, a exemplo da indústria da transformação, da calçadista e confecção, que tiveram mudanças no decorrer dos últimos 10 anos”.
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