Ruas e casas parecidas podem facilmente confundir quem não é da região. Em algumas calçadas, moradores das mais diversas gerações preservam o costume de se sentar em cadeiras no fim da tarde para observar o movimento. Essas características podem remeter a alguns bairros de Fortaleza, mas aqui, neste texto, tratamos especialmente do José Walter.
“Sétima cidade”, por conta de sua ampla extensão territorial, e “bairro dos cornos” são algumas das alcunhas que acompanham a história do lugar. Entregue em 1970 com o primeiro conjunto habitacional do Ceará - após os terrenos da região serem vendidos pela família Montenegro para a prefeitura da época, o bairro poderia até ter tido outro nome: Casimiro Montenegro.
Fred Montenegro, proprietário do Grupo Eduardo Montenegro Participações e membro da família que chegou ao José Walter bem antes de a região ser um bairro, é quem conta o causo. Ele lembra que o nome de Casimiro Montenegro (fundador do Instituto de Tecnologia Aeronáutica), seu tio, seria dado ao conjunto habitacional, mas na Câmara de Vereadores os parlamentares decidiram por batizar o local com o nome do prefeito da época: José Walter.
Em uma entrevista no escritório de Fred, que outrora foi a casa onde viveu muitos momentos da infância, ele conta sobre acompanhar desde muito novo todo o desenvolvimento do território e como a trajetória de sua família se mescla com o crescimento do bairro. Ao todo, foram cerca de 10 empreendimentos desenvolvidos pelo grupo Eduardo Montenegro Participações no José Walter.
E a contagem não vai parar por aí: a incorporadora lançou recentemente o complexo residencial Lago Montenegro e está construindo o Pátio Montenegro, mall com 52 lojas e cerca de 9.500 m². “Até agora são uns 10, porque a gente ainda tem terreno para fazer mais empreendimentos”.
O Pátio Montenegro conta com investimento de R$ 20 milhões e deve gerar entre 200 a 300 empregos quando estiver pronto, o que deve acontecer em julho de 2025. Quem passa pela Avenida Presidente Costa e Silva, a mais importante do bairro, já consegue ver o intenso ritmo de obras.
A via, por sinal, tem atraído olhares dos investidores que encontram no bairro um ecossistema interessante para seus projetos. Neste ano, há poucos meses, foi inaugurado o Mix Mateus, atacarejo do gigante maranhense Grupo Mateus. O negócio conta ainda com uma loja da bandeira de eletros do mesmo grupo e “trouxe” também uma SmartFit, que deve inaugurar em dezembro, movimentando ainda mais a região.
Ao ocupar um local que contava, por exemplo, com pouca iluminação e movimento de pedestres - o que apressava os passos de quem tinha que passar por ali -, o Mix Mateus povoou os arredores. A iluminação, bem como a retirada dos muros que delimitavam o que outrora era só terreno, ajudou a trazer sensação de segurança.
E não demorou para pequenos empreendedores aproveitarem a oportunidade: na esquina, um ponto de churrasquinho chegou um dia antes da inauguração do Mateus, apostando no sucesso da empreitada.
E a aposta parece ter sido certeira. Afinal, não há um dia só que o atacarejo não esteja abarrotado de carros. E o churrasquinho, consequentemente, sempre tem freguês. Lojas de roupas e outras variedades no local também parecem ter se beneficiado do movimento.
Logo mais a frente, na Bernardo Manuel - onde já há outro importante atacarejo, da bandeira Lag (Grupo Lagoa), um letreiro luminoso indica que em breve haverá uma pizzaria. Aos poucos, em um intervalo curto de tempo que esta colunista e algumas outras pessoas próximas puderam acompanhar, o José Walter se veste de pujança econômica.
A perspectiva é que o Pátio Montenegro também gere impacto robusto, povoando ainda mais o local, gerando não apenas empregos diretos como indiretos e proporcionando à população da Regional V ainda mais opções de produtos e serviços - o que será ainda mais necessário, considerado o avanço imobiliário residencial do bairro e das adjacências.
“Sempre acreditei no potencial socioeconômico da região, primeiro pela quantidade de gente. Além disso, hoje, José Walter, Maraponga e Maracanaú ficam todos muito próximos. O José Walter já tem muitas residências e terá ainda mais”, pontua Fred Montenegro.
Em sua tese de mestrado, de 2011, a historiadora Marise Magalhães se debruçou sobre o bairro. O conjunto foi criado para ser referência de moradia popular, mas quando começou a ser habitado, foram se tornando evidentes as deficiências estruturais, como “má qualidade das casas, fornecimento de água, mercantis, escolas de segundo grau, centros sociais e postos de saúde”.
Hoje, apesar de vários problemas persistirem, não se pode negar que muita coisa mudou. Daqui para frente, o que aguarda esse pedaço tão representativo da Capital?
Ah, José Walter, bairro do pão fresquinho vendido com simpatia, da senhora que vende cheiro-verde de porta em porta e do rapaz que usa de toda a sua criatividade para vender vassouras, é bairro de gente nobre. E sob a perspectiva imobiliária, será área nobre de Fortaleza?