Projeto de união da oposição no Ceará parece ter sido um castelo de areia
Críticas de Ciro a Bolsonaro e bolsonaristas desencadeou reações no PL, de André Fernandes
Na tarde desta sexta-feira (18), a política cearense foi sacudida por uma declaração que expôs as fragilidades da tentativa de unidade das oposições no Estado. O deputado federal André Fernandes (PL), que assumirá em setembro a presidência estadual do partido, cravou: em 2026, o PL terá candidatura própria ao Governo do Ceará e ao Senado Federal.
Não se sabe se é uma decisão, mas o anúncio soa como um rompimento na articulação em torno de uma aliança do grupo bolsonarista com o grupo político de Ciro Gomes, Roberto Cláudio e dissidentes do PDT que estavam prontos para deixar o parido dobrando à direita.
Fim do flerte com Ciro e Roberto Cláudio?
Até ontem, o cenário apontava para um movimento de convergência entre a direita bolsonarista e setores ciristas da oposição ao governo Elmano de Freitas (PT). Em fevereiro, o próprio André Fernandes fez elogios a Ciro publicamente, chegando a destacar sua coragem para enfrentar o atual governador.
De lá até aqui, as conversas se intensificavam com a presença de lideranças do PL, do PDT e, mais recentemente do PSDB, como o ex-senador Tasso Jereissati, discutindo uma aliança que parecia encaminhada já para o primeiro turno.
Mas o tom parece ter mudado radicalmente. Em declaração ao colunista Wagner Mendes, deste Jornal, Fernandes foi taxativo: “O candidato será do PL. Não há hipótese de apoiar Ciro ou Roberto Cláudio no primeiro turno”.
A guinada, segundo fontes ouvidas por Wagner, não se deu por acaso. Ciro, em uma aparente cruzada por uma terceira via nacional, publicou um vídeo nas redes sociais, com críticas que soaram ofensivas aos ouvidos da base bolsonarista.
O ex-ministro chamou bolsonaristas de “burros” ao comentar o apoio a medidas de Donald Trump, relativizou o escândalo do INSS colocando direita e esquerda no mesmo saco; e declarou que a polarização, motor da base bolsonarista, faz mal ao País.
O veto da direita cearense a Ciro
Para o grupo que orbita em torno de Bolsonaro no Ceará, qualquer aliança local precisa espelhar fielmente os valores do ex-presidente, e Ciro, com discurso crítico à polarização, tem perfil difícil de se encaixar no padrão.
Com oposição fragmentada, governo agradece
A divisão acaba, indiretamente, pelo menos no momento, favorecendo ao projeto de reeleição do governador Elmano de Freitas, que embora enfrente desafios de formar a chapa majoritária na base aliada, segue no governo e com apoio do presidente da República.
A pulverização de candidaturas opositoras, naturalmente, favorece o governo, cujo líder será candidato à reeleição.
Ressaca dirá os próximos passos
Nos bastidores, líderes da oposição já entraram em campo para tentar reverter a situação. A cada passo, a oposição cearense mergulha em indefinições.
Os fatos de hoje sinalizam que a junção dos grupos opositores, que aparentemente seria fácil, mostra que pode ter sido um castelo de areia.