O número de candidatos a deputado federal no Ceará saltou mais de 50% entre a última eleição, em 2018, e o pleito deste ano. Agora, são 409 postulantes para um total de 22 cadeiras destinadas ao Ceará no Legislativo Federal. Uma alta concorrência que se justifica por vários fatores, mas um em especial: a estratégia dos partidos de engordar os cofres com recursos dos fundos eleitoral e partidário.
No Ceará, a concorrência está em 18 candidatos para uma vaga. No último pleito, havia sido 12 por cadeira. Mesmo com a alta concorrência, o Ceará não é o Estado do País com mais candidatos a deputado federal. Este posto pertence ao Distrito Federal com concorrência de 26 por vaga.
Do ponto de vista individual dos parlamentares, um dos fatores a que se deve a corrida pelas vagas de deputado federal é o maior protagonismo conquistado por estes parlamentares nos últimos anos. A centralidade do Congresso Nacional até no debate de pautas estaduais, como as mudanças no ICMS, maior fonte de recursos dos executivos estaduais.
Além disso, a distribuição farta de recursos por meio das emendas parlamentares, principalmente as do chamado orçamento secreto, é um ponto sensível a fortalecer os deputados e entregar facilidades ao governo federal no Congresso.
Em contrapartida, o cenário cada vez mais monótono nos parlamentos estaduais, em que a base do governo domina as ações, mas os resultados efetivos da atuação parlamentar têm sido cada vez mais diminutos, contribui para essa busca por maior protagonismo das lideranças com potencial de votos.
Na conjuntura atual, a marca do envio de recursos para os municípios deixada pelos deputados federais, na comparação com os parlamentares estaduais, é muito superior, o que eleva as chances de reeleição no pleito subsequente.
Nos partidos
Entretanto, nenhum fato contribui mais com a busca desenfreada por um lugar ao sol em Brasília do que o instinto de sobrevivência dos partidos políticos. Instituições com a imagem desgastada perante a sociedade brasileira, os partidos passaram a adotar a tática pragmática de buscar formar grandes bancadas na Câmara para terem mais recursos dos fundos partidário e eleitoral. Isso acaba criando um vale-tudo em busca de lideranças, com zero alinhamento programático, para inflar a votação da chapa proporcional.
R$ 4,9 bi
é o valor do fundo eleitoral de 2022 para ser dividido entre os partidos e financiar as campanhas eleitorais
O grosso desse bolo é distribuído com base no número de deputados federais de cada legenda. No Cenário atual, é bem mais interessante eleger deputados do que até governadores, dizem especialistas no ramo.
O acesso a mais recursos facilita a missão dos partidos de voltarem a eleger mais deputados na eleição seguinte e realimentar um ciclo vicioso que interdita o necessário debate sobre uma reestruturação programática das legendas no País.